Grampos e democracia
Vivemos tempos muito didáticos. Com a política em queda e as instituições públicas tradicionais debaixo do tapete, perdeu-se o antigo controle das coisas. Os chamados poderes sempre conduziram as adversidades do jeito que melhor lhes convinha, desde os tempos da colônia de Portugal. Porém, em 2013 quando simples estudante foram às ruas em demonstrações de descontentamento forte e vigoroso, as coisas saíram dos trilhos e do controle. Nesse intervalo, rolou até o impeachment da presidente Dilma Rousseff na onda das forças que desfilaram nas ruas do Brasil.
Cada dia mais alguma coisa está saindo fora do eixo. Em Mato Grosso, denúncias de grampos telefônicos vem gerando uma queda em sucessão de um dominó que em outros tempos se resolveria com uma nota oficial publicada numa página de jornal. Ou de um desmentido no rádio e na televisão. Agora, teima em ocupar páginas inteiras de jornal. Minutos e mais minutos no rádio e na televisão, sem contar os sites que deitam e rolam. Valores antes inexistentes teimam em quebrar a inércia de antes de se firmarem com muita força no imaginário popular. A mídia não pode mais fugir desse tema e nem de outros que representem interesse da sociedade.
As contradições de cada um dos envolvidos surgem diariamente e as chamadas autoridades não podem fugir de desempenhar as suas funções mínimas e investigar, denunciar prender e soltar. Diria que há dez anos tudo o que está acontecendo em relação aos grampos, seria uma imensa heresia investigar. Quando mais denunciar, investigar e prender, etc. Mais ainda: prender oficiais militares, ex-secretários de estado militares e civis.
De fato, algo novo está no ar. Muito grave e delicado. Imagine-se alguém denunciar o sacrossanto Ministério Público tido como puro e intocado? Os desembargadores e juízes? Ensina a História que a partir do momento em que a punição alcança os andares superiores do edifício social, é hora de começar outra construção porque o prédio atual está condenado. Condenado e desmoronando.
Nesse episódio dos grampos ficou muito claro o quanto os poderes estão em divergência. Antigos ódios e rusgas saíram da toca e estão estampados nas páginas da mídia e nos noticiários eletrônicos. A credibilidade dos poderes está indo água abaixo e o corporativismo não permite que percebam o óbvio.
Se de um lado são ruins, de outro os grampos estão prestando um enorme serviço à sociedade, ao desmascarar os poderes e desnudar as suas fragilidades. Tempos de muitas mudanças. Muitas!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
Contato: onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br
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