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Opinião
Segunda - 11 de Setembro de 2017 às 13:53
Por: Daniel Almeida de Macedo

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Os reiterados testes de mísseis realizados pelo governo de Pyongyang tem deixado o mundo perplexo. É absolutamente perturbador que o espaço aéreo de um país seja violado pela trajetória de um foguete militar, especialmente quando esse artefato é lançado de uma base da Coreia do Norte, nação comandada por um tirano imprevisível que tem em mãos um sinistro programa bélico-nuclear. Na noite de segunda-feira no Brasil, dia 28/08, o Japão se encontrou precisamente diante dessa terrível ameaça. Um foguete foi lançado de um ponto próximo à capital norte-coreana e sobrevoou a segunda maior ilha do Japão, Hokkaido, caindo após 14 minutos em águas do Oceano Pacífico. O voo do míssil percorreu a distância de aproximadamente três mil quilômetros. Alguns dias depois, no domingo dia 03/09, a Coreia do Norte conduziu um teste nuclear com uma bomba de hidrogênio que provocou um tremor de magnitude 6,3 no território do país. Uma insanidade após a outra.

A complexa questão envolvendo a Coreia do Norte pode ser analisada por diversas perspectivas, mas talvez a pergunta central que sintetize todas as preocupações relacionadas ao tema seja a seguinte: o mundo será capaz de conviver com uma Coreia do Norte nuclear?

Para a sociedade internacional é extremamente difícil chegar a uma resposta exata para essa indagação, especialmente porque não aceitar uma Coreia do Norte nuclear significa, mutatis mutandis, aprovar uma ação militar para neutralizar suas pretensões atômicas, algo que seria alcançado apenas com uma guerra devastadora. A insolência desconcertante de Kim Jong-un, no entanto, tem causado inquietante apreensão em altos escalões do poder, a ponto de analistas reconhecerem que nesse momento o líder norte-coreano apresenta melhores condições de intimidar os Estados Unidos do que o seu congênere norte-americano possui de realizar o mesmo com o governo de Pyongyang. O teste com o míssil que passou sobre as cabeças da população japonesa foi certamente o mais provocador e audacioso ensaio missilístico realizado por Jong-un nos últimos anos. Essa manobra, combinada com o teste com a bomba de hidrogênio, escalou o nível da ameaça de guerra, mais uma vez. Nikki Haley, embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, disse em reunião do Conselho de Segurança que o líder norte-coreano Kim Jong-un "está implorando por uma guerra".

Após a Segunda Guerra Mundial emergiram cinco potências nucleares declaradas: Reino Unido, França, Estados Unidos, China e Rússia. Esses países desenvolveram seus arsenais e desde então convivem de forma até certo ponto equilibrada. Posteriormente Israel, Índia e Paquistão também desenvolveram armas nucleares mas com alcance somente regional, e também atingiram um ponto de estabilidade. A dificuldade para a Coreia do Norte integrar esse conjunto de nações está nas características de seu regime político e na forma de governo adotada. O país é uma ditadura totalitarista e inimigo declarado do Estados Unidos, ademais, está praticamente isolado do sistema global. Essas características geram uma enorme desconfiança dos países ocidentais e bloqueiam a evolução para uma situação negociada de paz.

O alento que se tem no momento refere-se à capacidade tecnológica ainda insuficiente da Coreia do Norte de embarcar uma ogiva nuclear nos mísseis intercontinentais. O analista de estratégia Tony Cordesman considera que o progresso da Coreia do Norte tem sido impressionante mas o país ainda está longe de ter um míssil plenamente operacional. Por outro lado, foi aceitando o lento progresso do programa nuclear da Coreia do Norte que o mundo atingiu esse ponto dramático e perigoso da história, em que restam poucas as alternativas sobre a mesa para evitar uma espiral incontrolável. Mesmo assim, a melhor aposta entre todas segue sendo a diplomacia, que pode evitar piores resultados. Aqui, contudo, surge uma outra questão crucial: o governo americano, principal ator nesse tabuleiro estratégico, está à altura do desafio político e diplomático que regime da Coreia do Norte impõe?

Daniel Almeida de Macedo é Doutor em História Social pela USP



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