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Opinião
Quarta - 21 de Fevereiro de 2018 às 22:26
Por: Eduardo Gomes de Andrade

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Feliz não é somente o homem que olha o retrovisor do tempo e vê realização, conquistas e o urro coletivo que a sociedade solta dos pulmões reverenciando o vencedor. Felicidade é muito mais. É um estado de espírito que não exclui a derrota, quando essa é desfecho de bom combate; é ainda a condição de quem ficou pelo caminho abraçado àquilo que acreditava, mas com a consciência tranquila por entender que às vezes a intenção vale mais que a ação.

Afunila-se o tempo do meu adeus ao jornalismo. Saio da profissão com a naturalidade que a abracei. Foram muitos os anos em que produzi textos jornalísticos, assinei artigos e fui sombra por trás de incontáveis editoriais. Não saberia dizer quanto escrevi, mas de uma coisa tenho certeza: se alguém me mostrar um parágrafo, por menor que seja, de conteúdo de minha autoria, independentemente de quando o criei, saberei identifica-lo, porque sempre mantive minha forma de observar os fatos.

A insistência na mesma tecla não é intransigência nem resistência a alguma ideia melhor do que a minha. É que por coincidência ou não, até então, não me senti tocado para rever esse ou aquele conceito: não sei se isso se deve ao meu isolamento do conjunto social ou se consegui pensar coerentemente.

Sempre procurei não deixar que meus erros e fraquezas chegassem aos meus textos. Mantive severo patrulhamento nos meus conceitos para que não ditassem meu tom editorial sobre questões que precisam de tratamento mais arejado, como o modelo democrático nacional.

Infelizmente, por minha limitação no mais amplo sentido, não tive condições de ser útil a alguns amigos que me procuraram em busca de espaço para conteúdos coerentes, oportunos e que poderiam ser levados ao público leitor. Peço desculpas a todos.

Passei quase despercebido pelo jornalismo, principalmente junto ao meio político. Não tenho o celular de nenhum deputado estadual e nunca conversei com a maioria desses parlamentares (na eleição em 2014 anulei meu voto para a Assembleia Legislativa). Não tenho agenda telefônica eletrônica e nas minhas anotações não constam mais que cinco ou seis telefones de políticos.

Entre escrever sobre política ou economia sempre optei pela segunda, o que contribuiu ainda mais para o meu distanciamento dos donos do poder e daqueles que tentam conquista-lo. Cobri eventos memoráveis para Mato Grosso e na minha caminhada ainda encontrei tempo para escrever alguns livros que foram publicados sem nenhum apoio das leis de incentivos culturais.

Acompanhei movimentos em defesa das rodovias federais 158 e 163, a luta pela criação da rota de escoamento de commodities pelo Arco Norte e a construção da ferrovia da Rumo ALL. Presenciei o aumento da violência urbana e o avanço das drogas; estive em velórios onde mães choravam os filhos que o crime levou. Vesti a camisa da população urbana de Estrela do Araguaia e da zona rural da gleba onde aquela comunidade foi criada; fiz o mesmo em relação à Jarudore e Nova Nazaré. Vi sangue em Campinápolis com o massacre que índios promoveram naquela cidade e pisei ao lado dos destroços do jato da Gol que caiu no Nortão após colidir com um Legacy.

Atoleiros, invasões de fazendas, festas agropecuárias, eleições, administrações públicas, atividades parlamentares, avanços da ciência agronômica, diversificação econômica, enchentes, escândalos, prisões de poderosos, ciclo do ouro no Nortão, malária, chacina em Matupá, visita do papa a Cuiabá. Vibrei com o nascimento de cidades.

Testemunhei o primeiro passo da soja em nossa abençoada terra. Essas e muitas outras pautas preencheram meu cotidiano. Conheci ou entrevistei figuras interessantes em muitos aspectos, que deixaram e deixam digitais na argamassa social e no desenvolvimento, e na divulgação mato-grossense (a citação não é por prevalência): coronel José Meirelles, Cacheado, Malagueta Bororo, Irmã Adelis, Archimedes Pereira Lima, Márcio Lacerda, Jakeline Oliveira da Silva, Ilberto Effting (Alemão), Bia Spinelli, padre João Henning, Elias Medeiros (Medeirão), Gabi, Mário Juruna, João Carlos de Souza Meirelles, Vilma Moreira dos Santos, Kleiber Leite Pereira, Adão Riograndino Mariano Salles, Julier Sebastião da Silva, Ariosto da Riva, João Belmonte, Anfilófio de Souza Campos, Ênio Pipino, Zeca D’Ávila, Norberto Schwantes, Djalma Pimenta, Benedito Canellas, Zé Paraná, Roberto Lucialdo, Filinto Müller, dona Nininha, Ênio Arruda, Dante de Oliveira, José Castrillon, Gilmar Mendes, padre Lothar, André Maggi, Comendador Arcanjo, Valdon Varjão, Ramon Itacaramby, Liu Arruda, José Clemente Mendanha, Vicente Cañas, Nalva Milta, Manao Ninomiya, Adib Massad, Shiro Nishimura, Hilton Campos, Zelito Dorileo, Artêmio Capelotto, Tomasso Buscetta, Wolfgang Dankmar Gunther Hornschuch, Mão de Onça, William Dias, Ângelo Maronezzi, Pedro Lima, Marinho Franco, Otaviano Pivetta, João Balão, Jair Mariano, Bolinha, Nana Farias, Vanessa da Mata, Márcio Cassiano, Maurício Tonhá, Ramis Bucair, Gabriel Novis Neves; Pescuma, Henrique & Claudinho; Nico & Lau; Carlos Orione, Silva Freire, Naftaly Calisto, Rômulo Vandoni, cacique Megaron, Fernando Tulha, padre João Salarini, Walter Ulysséa, Totia Meireles, Júlio Campos, Nego Amâncio, Antônio Luiz de Castro, Pedro Casaldáliga, Frederico Campos, Bife, Carlos Bezerra, Moisés Martins, Vicente Vuolo, Roberto Campos, Rogério Salles, Percival Muniz, José Riva, Serys Slhessarenko, cacique Raoni, Alzira Catunda, Moisés Feltrin, Sarita Baracat, Hortêncio Paro, Irmã Luiza, Silval Barbosa, Rogério Ceni, Joaquim Nunes Rocha, João Petroni, Nhonhô Tamarineiro, Pelezinho, Blairo Maggi, Aecim Tocantins, Wagner Tadeu Esteves Lima, Lenine Póvoas, Luiz Pagot, Jayme Campos, Ana Tiemi, Antônio Nunes Severo Gomes, Afro Stefanini, Ueze Zahran, Éder Moraes, Ioshua Matsubara (Paulo Japonês), Osvaldo Sobrinho, Luiz Elias Abdala, Munefumi Matsubara, Antônio Debastiani, Lídio Magalhães, Luiz Carlos Meister, Dunga Rodrigues, Jonas Pinheiro, Luzia Guimarães, Ricardo Guilherme Dicke, Helmute Lawisch, José Osmar Borges, Homero Alves Pereira, Vasco Milhomens, Wellington Fagundes, Sinjão Capilé, Cezalpino Mendes Teixeira (Pitucha), Antônio do Ponto, Teté Bezerra, Jorilda Sabino, Pedro Henry, Manezinho da Coban, Heronides Araújo, Luiz Alberto Esteves Scaloppe, Manfred Göbbel, Bruna Viola, Humberto Bosaipo, Pedro Pereira Campos, Sérgio Perfete, Ilson Pereira de Souza (Banespa), Milton Luciano, José Humberto Macedo, Adilson Reis, Edith Pereira Barbosa, Antônio Porfírio, Daniel Moura, José Queiroz, João Eloy, Marco Aurélio Fullin, Bento Lobo, José Aparecido Ribeiro, Augusto Mário Vieira, Luis-Philippe Pereira Leite, padre Raimundo Pombo, Gilson de Barros, Milton Teixeira Filho, Maria de Arruda Müller, Edison Freitas, colegas de jornalismo e tantos outros.

O tempo passou. Tudo na vida passa. Se pudesse voltar ao ontem acho que tentaria repetir o que fiz, corrigir os erros – muitos erros, mas não mudaria minha forma de ver o mundo. Acredito que novamente manteria silêncio sobre as ações que respondi pelo exercício profissional. Também – creio – não revelaria as fontes que consegui ao longo da caminhada e que tentaria melhorar meu relacionamento com os colegas de jornada na redação. Não tenho dúvida de que meu texto, assim como agora, não seria racista, xenófobo, homofóbico, preconceituoso, nem bajulativo aos donos do poder.

Sou extremamente grato aos leitores fidelizados e aos ocasionais – são poucos, mas me enchem de orgulho no melhor sentido da palavra. Impossibilitado de cumprimentar um por um, para agradecê-los, o faço neste texto. Peço desculpas por eventuais erros gramaticais, por alguma informação desencontrada, pelas falhas características do ser humano, principalmente em se tratando de conteúdo impresso, que não dá oportunidade de revisão – na redação costumamos dizer que o último revisor é o leitor.

Muitas reportagens e artigos ficaram marcados em minha memória. Interessante, por mais profissional que seja a produção o autor costuma vê-la pelo ângulo da afetividade – comigo não é diferente. Em respeito às demais não citarei nenhuma. Este não é o adeus, que virá muito em breve sem nenhum indicativo de despedida, escrito com a naturalidade que foi minha característica ao longo da profissão. Trata-se apenas do penúltimo artigo de minha autoria para sites.

Fiquem sempre com Deus e minha gratidão.



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