Perpetuando o negócio na empresa familiar
Perpetuar o negócio na empresa familiar é um belo desafio. E talvez algo importante seja compreender a diferença entre ser herdeiro e ser sucessor, para a partir disso traçar estratégias de desenvolvimento. Um equívoco comum é confundir o papel do sucessor com o do herdeiro. Os conceitos de herdeiro e sucessor são distintos.
Para tornar a situação ainda mais complicada, o próprio fundador costuma ter dificuldade para entender que seus herdeiros não serão necessariamente seus sucessores. Ser herdeiro é decorrência de um direito legal, tendo consequências práticas tanto na empresa, quanto no patrimônio; e não afetando diretamente a gestão operacional e o dia-a-dia da empresa.
Já a condição de sucessor é diferente, é uma questão sucessória, sobre quem deverá ocupar o cargo e desempenhar as funções profissionais, substituindo o fundador. Ela exige competências, habilidades, conquista pessoal e méritos. A condição de sucessor demanda a legitimidade de todo o grupo de herdeiros.
Por isso, quando o fundador designa seu herdeiro como sucessor nato, sem a devida legitimidade do grupo, o resultado não tem sido dos melhores. A sucessão pode estar ligada a diversos fatores, não somente pelo falecimento, mas também por aposentadoria, afastamento da empresa, determinação estatutária, demissão, entre outros motivos.
Fabio Mizumoto, professor do Insper, esclarece de forma lúdica e sábia essas diferenças. Qual a afinidade entre o dono da bola e o dono do jogo; e o herdeiro e o sucessor? Ser herdeiro quer dizer que um dia será o dono da bola, e assim terá a prerrogativa de definir o que pode ser feito com a bola, que tipo de jogo pode ser jogado e quais as regras desse jogo.
Para desempenhar o papel de dono da bola, as famílias empresárias devem se atentar para o fato de que é preciso formar seus familiares para que um dia possam assumir com destreza o papel de dono da bola.
Se o herdeiro será o dono da bola, o sucessor será o dono do jogo. Ser sucessor remete a quem irá definir a tática do jogo, escolher os jogadores, e também será responsabilizado pelos resultados do jogo. Preparar o sucessor pede muito tempo de treino, pois ele terá que saber como se joga, conhecer as nuances do jogo e as táticas existentes.
Em empresas familiares é muito comum que o dono da bola também seja o dono do jogo e não há nenhum problema nisso. E quando se trata de passar para a próxima geração, temos que preparar todos para serem donos da bola e alguns para eventualmente assumirem o papel de dono do jogo ou até mesmo preparar os herdeiros para entender que nenhum poderá ser o dono do jogo.
Se o fundador permitir, é bem-vinda a abertura do jogo para os herdeiros praticarem, assumirem responsabilidades, montarem suas próprias jogadas e mostrar que fazem bom uso da bola. Esclarecidas as diferenças, o caminho de preparação de ambos é distinto. Um herdeiro enquanto sócio precisa aprender em "como ser um sócio" e como lidar com as responsabilidades e desafios que terá que assumir. Isso envolve no mínimo conhecimento sobre o negócio, finanças, investimentos e direito.
Já o sucessor tem um árduo caminho de preparação, envolvendo o conhecimento do negócio, finanças, gestão, liderança, e muito provavelmente o mais importante: o legado do fundador por meio de seus valores, experiências e estratégias adotadas. Um bom planejamento sucessório pode contribuir para se ter um processo mais tranquilo, profissional e que possa minimizar os conflitos.
As gerações presentes na família, o legado que precisa ser passado e o respeito ao negócio, são elementos que trarão diferença e ganhos nesse processo de transição, de alternância de poder. Preparar herdeiros e sucessores pode ser intenso e prolongado, entretanto pode garantir a longevidade do seu negócio!
Cristhiane Brandão, administradora pela UFMT, especialista em Dinâmica dos Grupos pela SBDG, 20 anos de experiência em Gestão e Estratégia para empresas familiares e sócia proprietária da Nunes Brandão Consultoria Empresarial & Empresas Familiares, crisbran@nunesbrandao.com.br.
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