Eleição, a grande negociata
A chegada das eleições municipais leva os políticos a um frenético movimento. São as alianças entre partidos e grupos para a apresentação de candidaturas com chance de sucesso perante o eleitorado e, uma vez eleitas, governar adequadamente as cidades. Os grupos que exercem o poder montam estratégias para nele permanecer e os que estão do lado de fora fazem o mesmo na tentativa de entrar. A disputa, em princípio, é justa, é saudável e a possibilidade de alternância nos cargos, melhor ainda. Sugere a existência de muitos cidadãos interessados em dar sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade em que vivem. Pelo menos esse é o discurso.
Tradicionalmente se diz que o exercício do mandato público ou mesmo de cargos temporários no governo deve ser um ônus e não um bônus. O cidadão escolhido pelo eleitorado e aqueles chamados a colaborar com os eleitos empresta parte do seu tempo e principalmente a sua competência para a causa pública e, terminado o seu compromisso, volta à origem com a certeza da missão cumprida. Tudo muito bonito, não fosse a prática infelizmente estabelecida e cada dia mais presente nos escaninhos político-administrativos. Tanto os eleitos quanto os guindados a cargos, em vez de simplesmente cumprirem seu mandato, fazem tudo para se eternizarem no poder. Lutam por reeleições, nomeações subseqüentes e toda forma de continuísmo. O apego às coisas públicas é tão grande que se transformam em profissionais da política. Muitos, na verdade, nem têm profissão...
Com toda essa clientela faminta, a montagem das coalisões e esquemas pré-eleitorais, em vez de um nobre momento da política, transforma-senum sórdido balcão de negócios. E o mais triste é que a moeda de pagamento está nos cargos da administração pública, que são previamente loteados e distribuídos aos cabos eleitorais, parentes, financiadores de campanha e outros participantes do embate eleitoral, ora turvado pela ação dos participantes.
Passadas as eleições, o intervalo entre o anuncio dos eleitos e a posse é dedicado às composições, um momento de barganhas onde o eleito para o Executivo distribui os cargos de livre nomeação – 700 mil nas prefeituras brasileiras – a indicados dos vereadores que, independente das promessas feitas ao eleitor, se comprometem a compor o bloco da situação. Por conta disso, a máquina pública fica inchada de “profissionais” que caem de paraquedas em postos para os quais não têm a menor afinidade. E o povo paga a conta através dos salários dessa gente, normalmente mais altos que o do funcionário concursado e de carreira que, em muitos casos, não tem nem o compromisso de trabalhar. Infelizmente esse é um processo que ocorre nos municípios e se repete nos estados e na União.
O loteamento de cargos tem sido o responsável por grande parte da ineficiência da máquina pública e, principalmente, pelos casos de corrupção. É um problema que exige profunda reflexão e a busca da mais urgente solução...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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