Carta ao novo presidente Nossos valores hoje nos separam e cabe ao senhor nos unir novamente
Escrevo essas breves palavras com muito respeito ao cargo que o senhor irá ocupar a partir de 2019, no entanto já manifesto minha falta de admiração por muitas de suas falas.
Senhor presidente, o país que o senhor tem a função legal e democrática de administrar está muito dividido, e já lhe adianto que o senhor é muito responsável por tal divisão. De forma voluntária ou involuntária suas falas e sua conduta nos levaram a isso. Nós que sempre nos orgulhamos de sermos um povo alegre, espontâneo e unido em nossas diferenças, agora nos deparamos com um país onde as cores dos partidos e dos candidatos nos dividem, onde ficamos entrincheirados em nossos dogmas religiosos, ficamos fragmentamos em nossos desejos particulares e lutamos por super direitos, esquecendo-nos do nosso conceito de nação.
Diante de tanta intolerância em uma sociedade multiétnica e multicultural, as cisões na sociedade tendem a aumentar, e isso deverá ser sua primeira inquietação em seu governo. Pois não podemos continuar vivendo diante do “nós contra eles”, precisamos de uma sociedade apaziguada e isso passa pelas suas falas e suas práticas.
Senhor presidente, o país que o senhor tem a função legal e democrática de administrar está muito dividido, e já lhe adianto que o senhor é muito responsável por tal divisão
Bourdieu, um sociólogo francês denominou sua atual posição como um detentor de grande “capital simbólico”, cuja posse lhe dá uma dominação imediata sobre os demais elementos do campo social. Como detentor deste capital, o senhor recebe deste país uma espécie de adiantamento em razão da sua posição. Devo lhe atentar senhor presidente, que o senhor não deverá utilizar seu capital para fazer-se da violência simbólica e impor seu peso sobre os demais, pois segundo o próprio Bourdieu, o capital simbólico é um capital frágil, particularmente lábil e vulnerável, pois nas palavras do próprio autor “é um capital alienado por definição, um capital que se apoia necessariamente nos outros, no olhar e na fala dos outros”.
Nunca desejei que tantos estivessem errados quanto ao destino do país, e o senhor por ora é o responsável por dissipar ou confirmar o receio e o medo de muitos. Suas ações ou omissões irão reforçar os argumentos.
Nós brasileiros não podemos mais nos definir pelas cores das roupas que carregamos, mas sim pelos princípios que ainda preservamos. Sua vitória nas urnas reforça a ideia que como nação defendemos a democracia, a liberdade, a fraternidade, os direitos do indivíduo. Seu sucesso nas urnas demonstra que temos repúdio a corrupção, pois sabemos que ela não escolhe cor deste ou daquele partido.
Nossos valores que por muito tempo nos uniu hoje nos separa e cabe ao senhor nos unir novamente. Nós votamos em um, mas desejo sucesso a ambos, todos nós do povo dependemos disso.
Termino minhas palavras lhe desejando um governo sereno e com muita sabedoria, que o cargo de presidente lhe seja leve e não nos custe caro.
FRANKES MARCIO BATISTA SIQUEIRA é professor do IFMT e suplente de vereador em Cuiabá.
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