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Opinião
Terça - 10 de Abril de 2012 às 16:51
Por: Lourembergue Alves

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Sociedade alguma ignora a importância da leitura da palavra escrita. Nem deveria. Mesmo aquela em que grande parte de seus membros a considera uma atividade desinteressante. Aliás, foi exatamente isso que apontou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada na semana passada pelo Instituto Pró-Livro. Seu resultado é assustador. Pois dos entrevistados, apenas 25% gostam bastante de ler, e 53% dos que não gostam jogam a culpa na falta de tempo. A mesma desculpa utilizada, inclusive, por uma porção de alunos. Compreende-se, então, o porquê o uso da biblioteca caiu de 10% para 7% entre 2007 e 2011. Espaço, no entanto, estranhamente, nunca freqüentado por 75% dos brasileiros.
 
Índices preocupantes, sem, contudo, deixarem de ser provocantes. Até mesmo para quem se encontram à frente das pastas da educação. Independentemente da esfera de governo. Acontece, porém, que estas pessoas costumam ignorar os números que lhes são desfavoráveis, ou não realçam os feitos de suas ações. Ainda que estas sejam frutos tão somente do improviso. Estratégia-administrativa comum de prefeitos, governador e presidente da República. Somada o não estar nem aí da maioria da sociedade. Não estar que se junta à cegueira e a insensibilidade dos parlamentares, que substituíram a tarefa de fiscalizar pelo fazer vistas grossas. Exercício corriqueiro e, quase sempre, trocado por benesses, “merendas” e cargos no Executivo. Por isso, a pasta de Educação não passa de um local onde os políticos possam acomodar gente suas. Daí o atual quadro educacional brasileiro, cujo interior é marcado pela inexistência de bibliotecas – condizentes ou, pelo menos, do tamanho das necessidades - nas escolas públicas de muitos municípios e do Estado. Pobreza que desestimula professores – entre os quais, dezenas, centenas ou, talvez, milhares que, infelizmente, também não são vistos nos corredores das livrarias, nem a folhearem livros e textos, excetos os poucos adotado em salas de aula. E mesmo estes, na maioria das vezes, não são objetos de discussão, de conversas nos corredores.   
 
Situação que traz, implicitamente, porque a escola deixou de ser o local privilegiado da leitura. Transformou-no em muitas outras coisas, até em área de lazer, menos naquilo que, de fato, ela foi criada.   
 
Isso é bastante triste. Bem mais quando se percebe que o ato de ler vai além da obrigação. Pois atinge o seu devido valor social, e se fortalece na condição imprescindível para a vida e para o trabalho. O que não significa que o dito ato não possa ser utilizado como prazer. Prazer desfrutado por poucos. Pois, a referida pesquisa, considera leitores apenas quem “têm acesso a bibliotecas, a livros diversificados, que não são aqueles os comprados ou oferecidos pelas escolas”. Os leitores “são aqueles que têm incentivos dentro de casa, dos pais e dos familiares”. 
 
De todo modo, os números apresentados pela pesquisa mencionada no primeiro parágrafo deste texto são bastante sugestivos. Tanto que deveriam servir de reflexão não apenas no interior dos prédios escolares. Mas, também, por toda a comunidade. Sobretudo pelos governos, bem como levados aos plenários das Casas Legislativas. Isso espantaria a monotonia das sessões, uma vez que atrairia pais, alunos e professores para as galerias.   
 
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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