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Opinião
Sexta - 07 de Dezembro de 2018 às 09:47
Por: Roberto de Barros Freire

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Somos um país que temos uma das piores educações do planeta. E não é de hoje; é algo que vem desde o tempo do Brasil colônia. Mesmo a América espanhola desde o século XVI teve universidades, mas a América portuguesa – Brasil – só terá curso superior quando da vinda da família real portuguesa, fugindo de Portugal devido à invasão de Napoleão, no século XIX. Apesar de estarmos entre as maiores economias do planeta, estamos entre os piores sistemas educacionais. Nossa riqueza não vem do povo (explorado!), mas da exploração da natureza exuberante. No continente americano apenas o Haiti está atrás de nós. Países muito mais pobres que o Brasil tem escolas muito superiores às nossas, e seus estudantes saem das escolas sabendo ler e escrever, além de saber fazer contas, o que não ocorre no país.

Também, contrariamente ao que ocorre no resto do mundo, onde se aplica no desenvolvimento de sua população, no Brasil se aplica apenas em bens materiais e em explorar a “bondosa” natureza. Primeiro foi a cana de açúcar, depois o ouro, depois o café, depois a borracha, e agora são as commodity e petróleo do pré-sal, mas na educação do seu povo, na população, no máximo um verniz cultural, sendo mesmo as elites mal educadas, com escolas fracas e ruins.

Nossa alfabetização em grande parte não se dá na idade própria. Temos evasão no ensino médio que assustariam qualquer país descente, jovens que são cooptados pelo crime porque não tem uma escola razoável para frequentar e de onde são expulsos. Temos déficit de aprendizado e capacitação de professores, que recebem formação precária e ainda se permite que pessoas lecionem sem formação para tanto. Pesquisas mostram que 55% das crianças de oito e nove anos não sabem ler, e 93% dos alunos não sabem matemática ao concluir o ensino médio, mas o futuro governo e seu ministro da Educação acha que seu grande problema é a doutrinação de crianças e jovens.

Os melhores países em educação no mundo tratam seus educadores como pessoas que fazem um trabalho sério, com grande valor para toda a comunidade, remunerando bem e dedicando respeito

Pesquisas mostram que os jovens atuais não se interessam por serem professor, que é uma “carreira” que se torna cada vez mais um bico, que capta apenas os piores quadros das universidades, aqueles que não conseguem exercer outra profissão de curso superior, todas elas melhor remuneradas do que um professor.

Os professores precisam se virar, dando aulas em várias escolas diferentes, para fazer o dinheiro caber no mês. Essa rotina extenuante dos docentes, aliás, tem um efeito ainda mais perverso. Com menos tempo, eles acabam dando aulas piores. Afinal, bons professores precisam estudar para exercer seu ofício, e não perder tempo se locomovendo entre escolas distantes para lecionar. Além disso, alunos perdem dias preciosos de aulas e sofrem com o rodízio de profissionais da educação, que não se fixam nas escolas. A baixa aprendizagem dos estudantes também tem ligação com a falta de aulas, com os improvisos pedagógicos para adequar a educação à falta de condições educacionais.

Os melhores países em educação no mundo tratam seus educadores como pessoas que fazem um trabalho sério, com grande valor para toda a comunidade, remunerando bem e dedicando respeito. No Brasil, os primeiros a não respeitarem os professores são as autoridades públicas e os governantes, que fazem e desfazem da educação sem consultar os professores. É hora de acabar com os puxadinhos nas escolas brasileiras, o improviso, as coisas feitas no calor da hora, reformas que mais deformam algo que nem está pronto. Não precisamos de reformas, mas da construção de um sistema educacional descente, ensino integral, algo que nunca houve no Brasil. Não estamos em crise, o que pressuporia que um dia tivemos um sistema educacional bom e agora decaímos, estamos numa condição precária pelas opções políticas seculares desse país.

Países bem escolarizados tem baixo nível de violência e criminalidade, tem alto nível de saúde, de ordem pública e cívica. O povo é mais obediente e participativo.

Enfim, se queremos diminuir a criminalidade e aumentarmos o nível de participação cívica, é preciso criar bons cidadãos, que têm que sair de boas escolas. E isto é tarefa da sociedade civil e não apenas de governos, pois que para tanto é preciso o compromisso de todos pela defesa de uma educação pública de qualidade: qualquer sistema educacional demora uns 20 anos para apresentar seu resultado, e se deixarmos na mão dos políticos e governantes, que mudam a cada eleição, nunca terminamos de efetivar um sistema educacional, pois cada governo quer inaugurar o seu e desmanchar o que foi feito pelos antecessores.

Deixem os professores estabelecerem o sistema educacional e a educação, sem limites no orçamento, pois que uma educação boa é cara, mas barateia a vida social com pessoas bem educadas, mais cívicas, mais honestas. Que se tirem os políticos e governantes da organização educacional para que não se gaste na corrupção, nem com o privilégio dos seus parentes e aliados. É tempo de a sociedade civil fazer sua parte e perceber que os políticos e governantes são antes o nosso problema, mais do que a solução.

ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia na UFMT.



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