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Opinião
Sexta - 16 de Março de 2012 às 13:57
Por: Lourembergue Alves

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A arena política lembra muito um cenário teatral. Não se diz, aqui, novidade alguma. Pois há muito já se sabe disso. Os próprios escritores de obras de ficção, aliás, já faziam tal observação. Um deles foi Machado de Assis, a quem lhe interessava o estilo dos atores políticos; atraíam-no as suas aspirações efêmeras, ora risíveis, ora patéticas. Cenas que transformam parte das sessões parlamentares em uma ópera bufa. Mais ainda quando se percebe que o debate de idéias e de projetos caiu em desuso. Até porque a figura do orador também desapareceu. Agora, o parlamentar de expressão é quase unicamente o indicador de emendas no orçamento e o habilidoso em conchavos e negociatas. Partidário e defensor do corporativismo.

 Assim, não causaria estranheza alguma à notícia do arquivamento da CPI do superfaturamento da reforma do telhado do prédio do Parlamento cuiabano. Pressão existe nessa direção. Bem mais quando a tal pressão vem acompanhada da tese de que a dita comissão estourou o prazo regimental (60 dias), e não apresentou nenhum relatório. A despeito de todo o período de recesso parlamentar. Recesso que quebrou a continuidade dos trabalhos, e é, neste ponto, que apega os vereadores-integrantes da referida CPI. Porém, estes não fazem isso de forma convincente. São até hesitantes e, por vezes, titubeantes ao investigar o suposto crime de um de seus pares.

Estabeleceu-se, então, o impasse. O mesmo que promoveu a interrupção temporária das últimas sessões, e deve paralisar as que virão, toda vez que aparecer na pauta o referido pedido de prorrogação, em contraposição a solicitação de arquivamento. Isso favorece o ex-presidente-acusado. Registro que não é desconhecido dos vereadores, e, até por isso, eles permitem que o impasse estabelecido perdure por algum tempo.  Permitem-no porque também possuem “telhados de vidro”. Condição que deixa senão todos, pelo menos vários deles vulneráveis diante de ameaças da divulgação de denúncias e certas conversas, gravações e vídeos comprometedores – conforme boato que corre solto nos bastidores.

Situação complicada. Mais ainda quando se percebe que o plenário do Legislativo cuiabano, há muito, deixou de ser palco permanente da esgrima política. Isto é bastante triste. Agravada sobremaneira com a falta do debate de idéias, e, esta falta, revela também a ausência de comprometimento público dos chamados representantes da sociedade. Isso se torna mais claro no instante em que o parlamentar abandona a tribuna, os apartes e o diálogo com os demais e recorre sistematicamente ao Judiciário. Certamente porque esta ação – muitas vezes desnecessária – faz barulho na mídia, e, a partir desta, se consegue “vender” uma imagem positiva e conquista dividendos políticos preciosos. Sobressai-se, aqui, o personagem, não o tribuno ou o representante político.

Um personagem “vazio” de idéias e destituído de discurso. Igualmente se pode dizer dos parlamentares que trocam a defesa de suas opiniões pelo “entendimento” nos corredores ou nos gabinetes, o diálogo pelas negociatas, sempre com vistas a obterem vantagens pessoais. O pedido de arquivamento da denominada CPI do superfaturamento da obra no Legislativo cuiabano, aliás, se encaixa perfeitamente nesse roteiro tragicômico. 

 Cenas de um mesmo quadro teatral, no qual sobrepõe à melhor imagem, o melhor ângulo e a melhor embalagem, em detrimento do conteúdo discursivo e de proposituras de projetos que venham atender as necessidades e os anseios da população.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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