O jornalismo, o amor e outras formas para ambos
Comemora-se ao redor do mundo nesta quarta-feira, 14 de fevereiro, o Dia dos Namorados. Se para muitos países e culturas essa data é sinônimo dos festejos de São Valentim – cultuado por celebrar casamentos em segredo –, na minha vida ela é considerada um rito de passagem. Não religioso. Mas, coincidentemente, um rito de amor [pela minha profissão].
Foi, literalmente, por amor que começou o meu relacionamento com o jornalismo. Ainda bem jovem, casei-me com um profissional da área e pude acompanhar – sem pressa, nem pressão – o universo das palavras, vírgulas, sujeitos, verbos, predicados e pontos que davam forma aos textos noticiosos.
À época, mesmo com um pé em outra vertente da comunicação, o radialismo, que cursava na Universidade Federal de Mato Grosso, fui explorando – a passos lentos – os leads e linhas que levavam informação e, em muitas ocasiões, defendiam aos interesses dos menos favorecidos.
Um dia, sem querer, percebi que não tinha mais retorno. Era como estar parada ao lado de alguém que você gosta, pegar sem querer na mão da pessoa e compreender que – mesmo num lugar escuro e sem ninguém ver – aquilo se tornou real. Meu coração deixou um rastro e parte dele ficou em cada história que li e escrevi. Fiz meu segundo curso superior em jornalismo e tornei a paixão oficial.
Mas, o amor é simples? Claro que não! E, como em todo relacionamento, ele nos exige a coragem de ser frágil e forte. Nesse caso, não só pelo poder das palavras entregues ao mundo, mas também pela luta diária em resistir ao tempo. O jornalismo – assim como toda história dramática e intensa já narrada por poetas – vem se reinventando diante de oportunidades perdidas, erros e lições aprendidas quase sempre da maneira mais difícil. No susto.
Nos últimos 50 anos, em especial nas últimas duas décadas, o modo como as notícias são cobertas, reportadas, escritas e editadas mudou. Da taxa de mortalidade dos jornais impressos – com suas páginas saltando de prensas gigantes – ao surgimento do “ponto com”, o jornalismo busca deixar de lado o medo de desaparecer e protesta para manter notícias de qualidade ou que tenham o objetivo de ser. Mas, ele quer e quer e quer mais.
Novas plataformas surgem a todo momento. De um lado, redações – mais enxutas – esforçam-se para saciar um público cada vez mais exigente e voraz. Nada permanece exclusivo por mais de um minuto. Do outro lado, assessorias de imprensa invocam a criatividade e o olhar estratégico para criar o que ninguém é capaz de perceber na correria da rotina. Em comum, o desafio de ser relevante e prestar um serviço com responsabilidade – pautado na verdade.
Aí, você deve estar se perguntando: afinal de contas, o que tudo isso tem a ver com São Valentim? Há muito, muito tempo um imperador romano o condenou à morte por acreditar que casamentos não eram um bom negócio para a guerra. Ele acreditava que solteiros acabariam servindo melhor ao seu exército. No entanto, diferente de Valentim, presenciamos uma batalha que não está às escondidas e que podemos lutar juntos – unidos.
Pela primeira vez na história moderna, estamos diante da perspectiva de como a sociedade existiria sem notícias confiáveis. De como as novas plataformas engoliram os prazos. De como a transmissão substituiu a interpretação. De como o contraditório substituiu a deferência. De como a averiguação quer se tornar obsoleta. Há alcance e depois ao alcance. E qual o nosso papel nessa relação?
Era 14 de março de 2015 quando o pôr do sol cuiabano atravessou meu caminho e planos. Foi nessa data que fundei ao lado de dois grandes profissionais, Humberto Frederico e Ziad Fares, a empresa de assessoria de imprensa ZF Press. Foi nessa data que reafirmei meu compromisso com a sociedade em nome da informação com credibilidade. E é nessa data que conclamo todos os colegas de profissão: jamais deixem o jornalismo perder sua essência. Tornar-se um vilão àquilo que se propôs.
O amor, sempre o amor, transforma. Jornalistas, desejo que nunca percam o amor pela profissão e que, mesmo nos momentos difíceis, ainda exista amor para recomeçar. O resto da história ainda vamos descobrir. Eu? Sigo escrevendo. Para vocês, clientes da ZF Press e leitores, todo o meu carinho e gratidão.
*Soraia Ferreira é jornalista em Cuiabá e foi uma das fundadoras da empresa de assessoria de imprensa ZF Press
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