Terror cotidiano A Capital dos 300 anos ainda vive no passado, com ônibus velhos e sucateados
Imagine-se em um ambiente fechado, com mais de 80 pessoas confinadas em uma caixa de 14 metros. Um calor de 38ºC com um sistema de ventilação que praticamente não existe. Pessoas de todos os perfis, idosos, crianças de colo, pessoas com deficiências se alojando como podem, sem espaço para sentar. Essa caixa então começa a se mover e sacolejar, todos apertados e aglomerados. De parada em parada, 10, 20, 30 minutos, uma hora e meia depois você se espreme para sair e fim. Essa foi só a primeira jornada de um dia de um trabalhador. Ele ainda vai passar mais 8 horas no trabalho e depois terá que enfrentar a mesma caixa para enfim chegar em casa.
Poderia ser uma aventura única, uma vez por ano, mas é isso que o trabalhador cuiabano passa todos os dias. Isso em um dia normal, sem contar as variáveis. Se você se imaginou na situação citada acima, acrescente agora um imprevisto no meio da viagem. O ônibus quebrou, o ar condicionado não funciona, as portas não fecham. Poderia ser algo isolado, mas a situação ditada é tão corriqueira que virou rotina. Uma rotina que ninguém gosta de viver.
Para piorar, imagine que você chega a gastar R$ 2,5 mil por ano para entrar e sair dessa caixa. Fora que ainda contribui para a manutenção dessa caixa com outras formas de pagamentos, como impostos e colaborações.
Toda essa cena apresentada poderia ser diferente se houvesse um pouco mais de empatia de quem administra as contas públicas. Inúmeras são as reclamações do serviço de transporte público prestado em Cuiabá. A Capital dos 300 anos ainda vive no passado, com ônibus velhos e sucateados.
Toda essa cena apresentada poderia ser diferente se houvesse um pouco mais de empatia de quem administra as contas públicas. Inúmeras são as reclamações do serviço de transporte público prestado em Cuiabá
Somente quem já passou por essa situação sabe da importância deste serviço e o que ele representa para toda a sociedade. E é por isso que lutamos para que ele melhore e assim gere mais qualidade de vida para a nossa população.
Conseguimos a diminuição da tarifa, que havia sido elevada para R$ 4,10, no início deste ano, para R$ 3,85. Nossa equipe técnica provou que as empresas estavam lucrando indevidamente com esse aumento. O aumento não levou em consideração a redução da alíquota do ISS de 5% para 2%, aprovada ainda no de 2017 pela Câmara Municipal de Cuiabá justamente para desonerar as empresas que prestam esse serviço. Diante dessa irregularidade, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) concordou com a nossa análise e determinou que a tarifa fosse reduzida imediatamente. Seriam R$ 10 milhões a mais recebidos indevidamente pelas empresas.
Foi uma importante vitória, que conseguimos com o apoio da população, uma vez que mais de 2 mil pessoas assinaram a petição que pedia a diminuição da tarifa. Nós cuiabanos não somos contra o aumento, somos contra ao péssimo serviço prestado. Contra o fato dos trabalhadores nunca serem vistos como prioridades. E para melhorar, as empresas precisam mudar. Mudar a forma como prestam serviço à população. Não é aceitável viver em uma cidade sem ônibus que ofereçam o mínimo de conforto aos seus passageiros.
Continuamos na luta. Agora para buscar o melhor transporte para os próximos 20 anos. Sim, 20 anos é o período que as empresas vencedoras da licitação irão gerir o transporte na Capital. O que queremos então? Continuar com sucatas transportando nosso povo? Continuar vivendo o filme de terror cotidiano contado no início deste texto? Não. Queremos respeito. E como vereador irei lutar por isso.
Estamos cobrando agora transparência na licitação do transporte público, pois queremos analisar minuciosamente cada detalhe e garantir que a sociedade receba o melhor serviço de transporte público. O cidadão merece nosso respeito. Cuiabá merece a nossa participação.
DIEGO GUIMARÃES é advogado, mestre em Direito pela UFMT e vereador em Cuiabá pelo Partido Progressistas.
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