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Opinião
Segunda - 18 de Março de 2019 às 10:14
Por: Rosana Leite

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Quando o imaginário tenta detectar a violência contra as mulheres, e o tipo de agressores, surpresas ainda aparecem. Pesquisa do Instituto Datafolha, que foi encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e divulgada dias atrás, mostrou outros agressores, que, até então, se desconhecia.

O curioso é que uma a cada cinco mulheres afirma ter sido agredida por vizinho. Essa estatística que nem aparecia em pesquisas anteriores. Dessa vez o apontamento aconteceu pelas mulheres relatarem em outras opções, os vizinhos.

Dentre as mulheres ouvidas, 27,4% disseram ter sofrido algum tipo de agressão no último ano. Dessas, 76,4% falaram que o agressor era conhecido. O ranking de agressores ficou da seguinte forma: cônjugecompanheironamorado (23,8%), vizinhos (21,1%), ex-cônjugeex-companheiroex-namorado (15,2%), pai ou mãe (7,2%), amigos (6,3%), irmãos (4,9%), patrão ou colega de trabalho (3%).

De outro turno, a segunda edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” ouviu 1.092 mulheres acima de 16 anos, em 130 municípios do país, entre os dias 4 e 5 de fevereiro. As vítimas foram questionadas onde sofreram a agressão. As respostas adentram em alguns ambientes: em casa (42%), na rua (29,1%), internetredes sociais e aplicativos (8,2%), barbalada (2,7%), na escolafaculdade (1,4%), outro lugar (9%).

O mais triste da estatística foi saber que 52% das mulheres nada fazem, mantendo-se inertes, permitindo que agressores façam novas vítimas

A diretora executiva do Fórum de Segurança Pública, Samira Bueno, manifestou sobre as informações: “Pensamos muito na violência com uma lente das dinâmicas de criminalidade urbana, mas o fato é que as mulheres estão sendo agredidas, abusadas e mortas por pessoas com quem elas tinham algum tipo de relação estabelecida, com pessoas do convívio.”

É difícil estabelecer um perfil para as vítimas. Entretanto, o esboço apontou as idades que estão mais suscetíveis: de 16 a 24 anos (42,6%), 25 a 34 anos (33,5%), 35 a 44 anos (27,1%), 45 a 59 anos (17,8%), acima de 60 anos (13,6%).

Não só a agressão física foi retratada. Receber comentários desrespeitosos no ambiente de trabalho ou ser beijada sem consentimento que caracterizam o assédio, das quais 37,1%, cerca de 22 milhões, disseram ter sido assediadas no ano que passou.

As mulheres foram assediadas da seguinte forma: 32,1% ouviram comentários desrespeitosos andando nas ruas; 11,5% receberam cantadas ou comentários sem respeito no trabalho; 7,8% foram assediadas fisicamente em transporte público; 6,2% padeceram nas baladas, inclusive com toques no corpo; 5,5% foram agarradas ou beijadas a força sem o consentimento.

Entre as mulheres negras os assédios são maiores (40,5%). As pardas somam 36,7%, enquanto as brancas 34,9%. Outro destaque ficou por conta das pessoas que presenciaram: 59% afirma ter visto uma mulher sendo agredida física ou verbalmente, 43% viram homens abordando mulheres na rua com comentários desrespeitosos ou cantadas, 37% viram homens humilhando ou xingando as companheiras ou ex-companheiras, e 28% viram mulheres que residem na vizinhança sendo agredidas por companheiros.

O mais triste da estatística foi saber que 52% das mulheres nada fazem, mantendo-se inertes, permitindo que agressores façam novas vítimas. Não há crescimento absurdo, e nem diminuição sensível. Tudo transparece que a violência ainda é a mesma de sempre contra as mulheres, dentro e fora de casa. Os mecanismos de atuação em prol das vítimas, na atualidade, as encoraja a sair do anonimato...

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.



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