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Opinião
Sexta - 29 de Março de 2019 às 08:03
Por: Bradiane Ribeiro

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Conta-se a história de um morcego que era chamado de bobo pelos outros animais da floresta. Ele ficava de cabeça pra baixo no tronco de uma árvore e dizia que precisava de guarda-chuva para proteger os seus pés da chuva e que o capim ficava em cima da sua cabeça. Os outros bichos o chamavam de louco e perigoso, e alguns até tinham medo dele, porque o que ele falava, para eles, não tinha sentido.

Um dia, a coruja perguntou aos outros bichos se eles já haviam tentado olhar as coisas do ponto de vista do morcego. Assim, um belo dia, todos resolveram ficar de cabeça pra baixo um instante e viram aquilo que o morcego via todos os dias: o capim acima e o céu abaixo de seus pés. Assim, eles perceberam que a visão do morcego era a sua verdade. Ele não era louco, nem perigoso, apenas via o mundo de uma forma diferente – a sua forma.

Essa historinha, contada no livro Morcego Bobo, de Tony Ross e Jeanne Willis, nos mostra que se colocar no lugar do outro e sentir o que ele sente nos ajuda a entender sua visão de mundo. Neste mês de março, chamamos todos a ver o mundo pelos olhos das mulheres que lutam e lutaram ao longo da história pela igualdade de direitos e oportunidades.

Se hoje é normal vermos homens e mulheres indo às urnas para votar, antes de 1932 as mulheres não tinham direito a voto no Brasil.


Se hoje é normal vermos homens e mulheres indo às urnas para votar, antes de 1932 as mulheres não tinham direito a voto no Brasil

Se hoje é comum mulheres e homens dividirem as cadeiras das universidades, apenas em 1832 as mulheres passaram a ter autorização para estudar em nosso país, e apenas na escola elementar.

Se hoje, nos espaços de trabalho, vemos homens e mulheres ocupando diversos postos, até 1962, a mulher casada não poderia trabalhar se não tivesse autorização do marido.

Há coisas que atualmente para nós são normais, mas só ocorreram em razão da luta de outras pessoas.

Em nossos dias, os desafios das mulheres são outros – equiparação salarial, ausência de discriminação, combate aos diversos tipos de assédio e violência, conciliação da jornada de trabalho com a maternidade, com os afazeres domésticos e com a vida pessoal.

Pode parecer, para alguns, que essa luta não faça sentido ou seja desnecessária. Mas, na verdade, quem já sofreu por exercer a mesma função que um homem e receber um salário menor, quem já perdeu alguma oportunidade apenas por ser mulher, quem já foi vista como objeto e não como pessoa, já sentiu na pele que ainda não existe igualdade entre direitos e oportunidades para todos.

O meu convite é para que todos – homens e mulheres – percorramos juntos esse longo caminho na busca pela igualdade. Que cada um esteja disposto a sentir a dor do outro e saber que o desafio para construir uma sociedade justa é de todos.

Homens, essa luta também é de vocês! Não precisamos ficar de lados opostos, cada um pode fazer a sua parte.

Mulheres, se alguma de nós nunca se sentiu discriminada ou prejudicada, isso é uma vitória! É um sinal de que a luta pretérita rendeu frutos. Mas o fato de não ter sentido a mesma dor da outra não me impede de me colocar ao seu lado para lutar junto com ela.

Que este mês de março sirva de reflexão para que a luta por igualdade de direitos e oportunidades para as mulheres seja de toda a sociedade, e não apenas de parte dela.

BRADIANE FARIAS LIMA RIBEIRO é procuradora do Trabalho no MPT em Mato Grosso



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