Cuiabá precisa de mais árvores!
Infelizmente, em seus 300 anos, que serão completados no dia 8 de abril, Cuiabá não pode mais ostentar o título de Cidade Verde devido à lamentável perda da sua cobertura vegetal. Do mais pobre ao mais rico, letrado ao iletrado, todos têm responsabilidade no problema e na solução.
Como arquiteto, urbanista e cidadão, fico impressionado quando vejo moradores cortando árvores em seus quintais ou calçadas, dizendo: ‘elas sujam e rompem o concreto’ ou ‘elas atrapalham a fachada do imóvel’. Fico mais surpreso ainda ao observar que em uma cidade extremamente quente, a fiação elétrica/lógica/telefonia possui supremacia sobre a arborização.
É uma pena que os gestores municipais sempre estiveram descompromissados com a causa pública. Não dão exemplo, nem cobram exemplo. Mas é importante frisar que um local com apenas 30 metros de largura de arborização reduz o ruído de 5 a 8 decibéis, o equivalente a 50% no barulho ouvido por uma pessoa.
Além de bonitas e agradáveis, ruas arborizadas são comprovadamente benéficas e diminuem em até 5º C a temperatura que o asfalto libera. As árvores também reduzem a poluição sonora, porque servem como bloqueio natural às ondas de som.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição sonora é a terceira principal causa de poluição do mundo. O ruído pode perturbar o trabalho, o descanso, o sono e a comunicação, bem como afetar a audição e causar reações psicológicas e fisiológicas no ser humano.
Estudos recentes realizados por pesquisadores doutores da Universidade de São Paulo (USP) comprovaram que a temperatura do asfalto sob insolação pode atingir 60ºC, enquanto o mesmo asfalto, sob a proteção da copa de uma árvore atinge cerca de 35ºC. É uma diferença alarmante!
No contraponto, estudos realizados pela UFMT, em seus programas de pós-graduação em Ciências Florestais e Ambientais; Geografia, Arquitetura e Urbanismo e Biologia comprovam que a arborização urbana é um dos fatores relacionado à melhor qualidade de vida da população.
Quando o tema é árvore, poesia e ciência se encontram, pois com o farfalhar dos seus galhos, os odores refrescantes, a florada e as frutas, o abrigo de pássaros e seus cantos, há indiscutivelmente melhoria da qualidade do ar e na qualidade de vida física, mental e espiritual humano.
Apesar da necessidade de tê-las por toda parte, Cuiabá está cada vez mais despida de árvores, algo que impacta diretamente no aumento da temperatura. Os primeiros estudos sobre as variações térmicas e de umidade foram realizados pela professora da UMFT, Gilda Tomasini Maitelli, em 1990. Naquela época, foram evidenciadas as primeiras ilhas de calor urbanas.
O fenômeno climático acontecia, notadamente, no período noturno em condições de estabilidade do ar e sem a ocorrência de chuvas, quando o calor armazenado no tecido urbano da Capital mato-grossense era liberado para a atmosfera. Mesmo com a ocorrência de chuvas, a área comercial ficava mais aquecida do que o seu entorno, confirmando a influência do uso do solo nu e cru sem a cobertura de árvores, nas condições térmicas.
As variações das taxas de umidade relativa já eram, há quase 30 anos, inversamente proporcionais à temperatura. Um dos efeitos era que o ar ficava, em média, 10% mais seco nas áreas centrais em relação às arborizadas e/ou suburbanas.
Diante de todos esses números, temos que iniciar urgentemente um processo de arborização; e as instituições acadêmicas têm produção científica suficiente sobre características peculiares de cada espécie e sua utilização em ruas, parques, jardins e quintais.
O que falta mesmo é vontade política e conscientização de cada um de nós. Então, em homenagem à nossa querida cidade, conclamo a todos: Vamos plantar e cuidar de uma árvore?
Eduardo Chiletto, arquiteto e urbanista, presidente da AAU-MT, academia.arquitetura@gmail.com, https://www.instagram.com/academiaarqurb/
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