Carne na lata
Estou vendo anunciado, no Face Book, que uma empresa faz e entrega carne na lata. Os mais jovens não sabem o que é? Antigamente não tinha geladeira e, para conservar as carnes, por muito tempo, elas eram acondicionadas, já fritas, dentro de uma lata embebida e coberta com banha de porco.
Tal reclame me levou de volta, inopinadamente, a minha doce, difícil e querida infância. Eu ajudava a minha mãe a acomodar, nas latas de 20 litros, as carnes que eram cobertas de banha de porco para conservá-las e comê-las no futuro, pois não era todo dia que se matava porco criado no quintal.
Tudo, naquela época, era natural e rustico. O café era colhido, torrado numa engenhoca de metal redonda, chamada de torradeira, movida por uma haste que era movimentada, a mão, perto do fogo para que o café fosse homogeneamente torrado. A pessoa que torravam o café não podia depois sair ao vento ou tomar banho imediatamente por que podia pegar uma friagem e ficar troncho.
Por que estou aqui, a troco de uma lata de carne na banha, me ocupando destas reminiscências? Não sei bem! Acho que a velhice é um cavalo onde se monta de cara para trás. Continuamos seguindo em frente, mas o nossa alma, o nosso ser insistem em ficar presos, no passado imutável e inflexível, como se procurássemos a nós mesmos, em algum lugar perdido no tempo pretérito.
Evoco minha mãe e meu pai que pairam, em minha mente, como uma lembrança esmaecida. E penso que daqui a pouco eu serei uma lembrança tênue na mente de algumas pessoas que me têm apreço. Se eu tivesse, como o Drumond, tomando um conhaque eu diria que exagerei na dose, mas ainda não tomei sequer a minha rica cachacinha que me olha de soslaio “enriba” daquela majestosa e silenciosa estante.
Quantos estragos não faz uma inocente lata de carne na banha?
Para matar a saudade, eu pedi, via Internet, 09 latas de carne na banha de 900 gramas e distribui meu passado para alguns amigos queridos. Se tivesse bebido eu pediria perdão, mas como ainda não estou sob efeito etílico, eu peço desculpas pelos exageros que cometo semanalmente, nesta coluna, aos meus queridos leitores. E, se pudesse, eu mandaria uma lata de carne na banha para cada leitor, a fim de que experimentasse esta rica iguaria, para demonstrar o apreço que tenho a cada um de vocês.
P.S. A banha de porco, depois de passar muito tempo no Index, foi ressuscitada e, hoje, é tida como alimento saudável. Fez-se justiça para um excelente alimento que é consumido desde sempre.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br
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