A crise do ensino em São Paulo
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo está convocando, para dar aulas, professores que não conseguiram média mínima no concurso público realizado em novembro último, e até os que nem fizeram as provas. Com isso, deverá preencher temporariamente as vagas existentes nas escolas estaduais da capital e interior. Deve ser um procedimento legal mas, sem qualquer dúvida, é muito esquisito e nos autoriza a questionar como ficará o já caótico ensino, ao incorporar regentes que não passaram no concurso e outros que sequer foram testados.
Já faz muitos anos que é cada dia mais rara a figura do professor que, principalmente aos olhos do alunado, parece saber tudo. Ele foi substituído por jovens cada ano mais apressados, que lecionam em várias escolas e nos três períodos do dia, sem que lhe sobre tempo para reciclagem, lazer e vida social. Muitos desses já são o resultado da crise de má formação e, se continuarem tendo de “matar um leão por dia para sobreviver”, só poderão contribuir para a contínua queda de qualidade no setor.
O professor é peça fundamental da sociedade. De sua competência e atualização dependerá diretamente o futuro dos alunos, numa sociedade cada dia mais competitiva e excludente. Para atender às necessidades da sociedade que, em quatro décadas passou de pastoril para altamente tecnológica, os governos ampliaram o número de vagas nas escolas e até tentaram métodos diferenciados de formação mas, boa parte das tentativas deu errado ou ainda patina na indefinição. Hoje ainda existem alunos de ciclos avançados que sequer sabem ler ou interpretar um texto.
Por conta da má qualidade da escola pública, cresce vertiginosamente o ensino particular que só não é maior porque a população não tem poder aquisitivo para custeá-lo. A grande massa do povo está na escola pública e, se não torná-la eficiente, os governos colocam sob risco as próximas gerações, que poderão deparar com a incômoda situação de ter o diploma e não saber o que dele fazer.
Espera-se que este seja o último ano em que o governo paulista e, se possível, dos outros estados também, tenha de “amaciar” as exigências para compor o quadro de professores. Mas, para obter a regularidade do quadro, é necessário oferecer à classe salários condizentes e atrativos e um regime de trabalho capazes de atrair os profissionais competentes e vocacionados, que hoje lecionam na iniciativa provada ou estão fora do magistério. Enquanto o professor for obrigado a cumprir várias jornadas para compor o seu ganho, a perda será do aluno e da sociedade que, no futuro, não terá como absorvê-lo no seu justo espaço.
O servidor público é a garantia de funcionamento da máquina estatal, que a sociedade paga através dos impostos. Os governantes e administradores têm de se conscientizar de que a classe tem de, no mínimo, receber remuneração que lhe permita viver com dignidade. Sem isso, o sistema mergulha em profunda crise e só não fecha as portas porque, diferente do setor privado, o estatal não é passível de falência, mesmo quando mal administrado.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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