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Opinião
Domingo - 26 de Fevereiro de 2012 às 22:00
Por: Lourembergue Alves

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Mudança no secretariado. Notícia de ontem, sem ser velha. Certamente porque ela encabeça todo o noticiário a respeito do governo estadual. Parece não existir outro. Talvez não haja mesmo. Pelo menos com tamanha importância. Sobretudo por conta da pressão. Pressão que vem do Parlamento, e se fortalece no seio dos partidos governistas, com cada qual interessado apenas no quinhão que lhe cabe, ou deveria caber por conta de sua participação na campanha eleitoral vitoriosa.
 
Isso revela, contudo, a teia de dependências que se instalou na política brasileira. Não de agora. Pois a tal prática já se enraizou. A ponto, por exemplo, do loteamento dos cargos se iniciar bem antes da apuração dos votos nas urnas, e prossegue mesmo depois de terem sidos empossados todos os titulares das pastas. Até porque existem os postos de segundo escalão, assim como também há possibilidade de se trocar um ou outro secretário. Inclusive sem a vontade expressa do chefe da administração pública mato-grossense. A substituição, aliás, no comando da educação é lapidar. Substituição que se deu, primeiro dentro do PT, em seguida pela mídia e, somente depois, com a presença do governador, na condição de simples mestre de cerimônia.
 
Situação tragicômica – para não dizer outra coisa. Agravada com a lengalenga de que deputados estaduais reivindicam uma reforma administrativa. Alguns deles, pasmem, mostrando “comprometimento público”, saem com a tese de que o PSD deve entregar todos os cargos para o governo, até no sentido de contribuir com a dita reforma; outros - mais “descomprometidos”, porém a empunharem a bandeira do “espírito público” - advogam o fim das Secretarias de Cultura e do Esporte, e a transformação destas em apêndices da Educação; e um terceiro grupo, comedido, defende a troca simplesmente de três ou quatro dos atuais nomes, sem que haja o retorno de parlamentares-secretários para a Assembléia Legislativa, com o fim de não mexerem com os suplentes, confortavelmente instalados desde o instante da composição do secretariado. 
 
Uma composição que tem como critérios tão somente a acomodação política e a divisão das benesses do poder. O que não deixa de ser, também, razão de descontentamento. Pois sempre aparecerá alguém disposto a reivindicar maior partilha. Daí as críticas no plenário do Parlamento contra figuras já carimbadas do governo. Esta é uma forma de pressão. Pressão que se fortalece com a ajuda da mídia que, vez ou outra, serve igualmente de escoadouro e, quase sempre, se faz de canteiro onde se “planta” notícias. 
 
Quadro instigador. Mais ainda quando se observa a indecisão do governador – preso as vontades dos caciques peessedistas, republicanos, peepistas, peemedebistas e petistas. Isso sem falar nos seus próprios desejos, congestionados pelas impossibilidades de se ver materializada a candidatura a senatoria. Também, pudera, a gestão patina na crise financeira, e a prancha que tem ao alcance é incapaz de vencer a onda do desequilíbrio e dos desacertos. 
 
Desconfortavelmente, e sem rumo, o governador tende a mexer no secretariado. Até com vistas a manter perto de si os deputados. Porém, o ocupante da cadeira número 1 do Paiaguás ignora que não basta trocar os nomes dos auxiliares diretos. É preciso bem mais do que isso, e um deles é a substituição da “acomodação” e a “divisão das benesses” pelos critérios técnicos e políticos. Tema de outro artigo.       

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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