Dependência
Dependência. Einstein tinha toda razão ao dizer que um dia a
tecnologia iria suplantar o humanismo. O sinal da internet não
funcionou na região do hospital onde trabalho. Senti-me totalmente
impotente para atender bem os meus clientes. Sem mensagens, as
anotações armazenadas no computador ficaram inacessíveis. Em
princípio pensei que o problema fosse do meu iPhone. Depois,
percorrendo o hospital, detectei que a pane fora geral. Retornando
para casa, e inconformado com a situação inusitada, liguei o
celular
e obtive sinal imediato. Depois encaminhei uma mensagem pelo
WhatsApp,
com sucesso. Nunca imaginei que um dia o brinquedo inventado por Bill
Gattes fosse interferir no trabalho de um médico. Venho de longe.
Anterior ao estetoscópio para ausculta pulmonar e cardíaca, do
ultrassom - que matou um mito sobre a caixinha de segredos que era o
nosso abdome - e dos modernos equipamentos do arsenal tecnológico
que
dão suporte à medicina atual. A velha e humanística semiologia
formadora pela relação médico-paciente foi substituída pelos
protocolos internacionais, considerados ideais para a especialidade
exercida pelo médico. Agora, quem investiga o cliente é o
computador
e os seus parâmetros. Adeus ao médico depositário das
confidências
dos seus clientes, pois, este programa não existe na Internet. Os
honorários médicos, até então uma distinção de reconhecimento
científico do esculápio, foram substituídos por tabelas pelos
planos de saúde. E como são ridículos esses pagamentos! A
tecnologia distanciou o pobre dos serviços de saúde. Este fica
totalmente abandonado, sem uma luz no final do túnel. Medidas
paliativas são tomadas pelo governo em ano eleitoral, e logo
abandonadas. Em breve teremos robôs substituindo os médicos e
operando à distância com enorme eficiência. Sinto-me um
prisioneiro
do exercício de uma profissão humanística dominada pelo comércio
da tecnologia. Einstein tinha razão. A tecnologia matou o humanismo,
especialmente, na medicina.
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