Os homicídios do Brasil
Passei minha infância durante os anos gloriosos da ditadura, do "milagre brasileiro". Durante a década de 70, nosso país era visto como uma superpotência do futuro. No programa do Moacir Franco tinha até um quadro em que ele interpretava um usineiro de álcool que espezinhava o presidente Carter, dos Estados Unidos da América. Ironia das ironias, hoje, o Brasil importa álcool dos EUA. Eita erro federal! Literalmente...
Chegaram os anos 80, a década perdida. E, depois de muitos planos econômicos, ou "Pacotes", como chamavam, a miséria no país atingiu níveis alarmantes. A Igreja nunca teve tanto trabalho em socorrer os famélicos abandonados da nação. Então, apareceu o Fernando Henrique com seu Plano Real, que inacreditavelmente funcionou. Depois, como presidente, ele implementou as bolsas de auxílio para educação e para erradicar o trabalho infantil. E, realmente, hoje fomos catapultados em uma situação muito melhor, já somos a quinta economia do planeta. É claro que poderíamos muito mais.
Além do álcool, temos outros grandes erros federais. O pior certamente é a taxa de homicídios que aumentou mais de 3,5 vezes no país, nos últimos 30 anos, segundo a pesquisa divulgada pelo Instituto Sangari. Essa taxa mortal passou de 11,7 por 100 mil habitantes para 26,2.
Para se fazer uma comparação com as guerras, de 2004 a 2007, 169,5 mil pessoas morreram nos 12 maiores conflitos mundiais, já no Brasil, foram 192,8 mil homicídios. Não temos conflitos religiosos, nem étnicos, nem de raça, não disputamos fronteiras, não estamos em guerra civil. Esse é o país da paz, exemplo para o mundo?
A situação só não é pior porque no Estado de São Paulo houve uma tremenda redução dos assassinatos, de 63,2%. Já o estado que mais cresceu, qual foi? Claro, a Bahia, onde estamos vendo como a polícia age quando protesta, ocupando a Assembleia e incitando a depredação. Falam da desocupação do Pinheirinho de São José dos Campos, onde trabalho, mas nada fazem contra o genocídio da população baiana. É um novo massacre dos Malês?
Creio que o outro erro federal mais importante é o tratamento dispensado ao trabalho infantil. Apesar de começar bem com FHC, não houve continuidade e hoje ainda observa-se mais de um milhão de crianças de 10 a 14 anos ainda trabalhavam no Brasil, segundo os dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010. Esses números representam 6% das crianças.
Segundo especialistas, esse problema não é por razão financeira, mas cultural. Devemos ainda observar que 95% dessas crianças que trabalham também estudam. Assim, parece que não basta colocar as crianças nas escolas, mais que aprender português e matemática, e não aprendem, precisam aprender valores humanos. A preparação dos pais deveria constar nos planos de Educação. Mas o que esperar de um governo que não consegue nem organizar um exame nacional de avaliação de alunos?
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
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