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Opinião
Sexta - 10 de Fevereiro de 2012 às 09:38
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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A greve de policiais da Bahia ainda não está resolvida e os policiais do Rio decretam a paralisação a partir desta sexta-feira. O governo carioca diz que todas as unidades policiais trabalham, mas é uma informação provisória, tanto que o governador já acertou o reforço do Exército e da Força Nacional de Segurança. As polícias de várias outras unidades da federação também vivem em pré-greve, mesmo sabendo de todas as conseqüências legais e disciplinares que um movimento paredista pode causar. A reivindicação básica é por melhores salários, que os governos estaduais afirmam não ter caixa para pagar.

O governador Sérgio Cabral dificilmente recorrerá à prisão de todos, pois fez isso com os bombeiros no ano passado e teve de recuar. Mas também não pode tolerar o movimento, nitidamente ilegal. Cabral, Jacques Wagner (da Bahia) e a maioria dos governadores deixaram o problema acumular e, hoje, têm uma batata quente nas mãos. A prática brasileira das últimas três décadas criou uma perniciosa subjetividade que não permite o cumprimento das leis em vigor. Acostumou-se a dar interpretações momentâneas, muitas vezes estapafúrdias, que atendem aos interesses de segmentos e de momento sem se importar com a verdadeira organização do Estado.

Está escrito que militar não pode fazer greve, mas ao longo de anos os governos frouxos toleraram e, quando na oposição, governantes atuais até incentivaram os movimentos sob a argumentação de serem “democráticos” ou “justos”. Agora, quando o gatinho mimado de outrora está transformado num tigre voraz, pouco há a se fazer. Os governantes que toleraram as greves por entendê-las justas, pouco ou nada fizeram ao longo dos anos para que as polícias passassem a pagar salários justos. O conjunto das omissões está levando insistentemente para o terreno do confronto, que todos sabemos como começa mas não conseguimos sequer supor como pode terminar.

Desde o começo da abertura política, na virada dos anos 70 para o 80, vimos o estado naufragar em sua autoridade. As novas lideranças, engolfadas de “democracia” passaram a agir ao arrepio da lei e dos princípios e, o pior, usaram a via legislativa para criar verdadeiros fantasmas que hoje assombram a sociedade. A execução penal, por exemplo, transformou os presídios em verdadeiros hotéis e facilitou o surgimento do poder paralelo das facções criminosas que desafiam a sociedade. O enfraquecimento das instituições do Estado é outro. Infelizmente, o grupo de sonhadores que nos tem governado e legislado, no propósito de construir a democracia brasileira, acabou abrindo mão de princípios basilares de organização e, hoje, vivemos as conseqüências que podem levar ao absoluto descontrole.

Hoje é tarde para retomar os rigores da lei – como tentou Sergio Cabral com os bombeiros no ano passado – mas, os governantes e a sociedade precisam, urgentemente, reencontrar o ponto de equilíbrio. A greve de policiais é ilegal, mas os salários na maioria dos Estados são vergonhosos. Há que se encontrar o consenso ou o fim disso tudo será trágico. Essa a dura verdade, que não pode calar.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br 



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