Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Terça - 09 de Julho de 2019 às 10:07
Por: Rafael Sodré de Aragão

    Imprimir


A evolução no tratamento do câncer nas últimas décadas é inegável. Nos últimos anos, segundo dados do GLOBOCAN (Global Cancer Observatory), mesmo com o aumento de novos casos de tumores, também ocorreu uma queda da mortalidade em quase todos os tipos de neoplasia.

A razão para este fenômeno é multifatorial. Tem início na prevenção primária, como mudanças de hábitos de vida, vacinação, introdução da atividades físicas, passando pela avaliação médica periódica, intensificação do rastreamento de neoplasias baseado em diretrizes, detecção precoce de tumores em fases iniciais e, por fim, a melhoria das técnicas cirúrgicas, quimioterápicas e radioterápicas.

Um desafio, para os oncologistas, ocorre quando o paciente chega num estágio chamado de carcinomatose peritoneal, quando o tumor já se disseminou pela cavidade abdominal, podendo atingir uma área restrita ou toda a cavidade. A estimativa é que 60% dos casos de câncer de ovário, 20% dos cânceres de estômago e 17% dos tumores de intestino já estejam em estágio de carcinomatose quando são detectados.

Neste cenário, até há algum tempo, acreditava-se que nada mais poderia ser feito pelo paciente além do tratamento paliativo. Em alguns casos era recomendado cirurgia, mas apenas para prolongar a vida por um período. Estudos da década de 1930 já apontavam que a cirurgia para retirada total ou quase total do tumor de ovário, chamada de Citorredutora (CRS), aumentava as chances de sobrevivência.

Mas, logo se percebeu que apenas a cirurgia não seria suficiente para impor melhorias substanciais na sobrevivência dos pacientes. Um procedimento aprimorado nos últimos anos tem apresentado bons resultados. Denominado Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica (HIPEC), age de modo a melhorar a penetração da droga no interior da célula, levando dano ao DNA, causando aumento da concentração do medicamento em níveis não alcançáveis por via convencional, além de gerar toxicidade direta por aumento de temperatura e baixo pH.

Apesar da grande empolgação com essa nova técnica, nem todos os pacientes são candidatos a HIPEC. Por se tratar de um estágio muito avançado da doença, onde a agressividade da biologia tumoral é multifatorial, fica extremamente subjetivo selecionar o paciente mais adequado ao procedimento. Muitos estudos foram publicados e outros estão em andamento tentando chegar a essa resposta.

Até o momento, a HIPEC tem seu benefício comprovado para alguns tumores do apêndice, como o Pseudomixoma Peritonei, ou tumores do peritônio ex. Mesotelioma. Recentemente, em casos selecionados com rígidos protocolos, tem sido feitos para câncer de ovário e estômago.

Esses cuidados e estudos são cada vez mais necessários para suprir a evolução que a doença tem tido nos últimos anos. No levantamento mais recente do Instituto Nacional de Câncer, realizado em 2018, o tumor de ovário, por exemplo, atingiu 6.150 casos no Brasil, sendo em torno de 70 casos em Mato Grosso.

Em Cuiabá, este procedimento é realizado desde 2013 com boas taxas de controle da doença. Felizmente, essa é uma área na cirurgia oncológica que vem crescendo, juntamente com os avanços das imunoterapias e terapias genéticas, levando a uma oncologia de precisão onde o foco é, se não puder levar a cura, entregar uma doença controlada e com qualidade de vida.

*Rafael Sodré de Aragão é médico cirurgião oncológico, mestre em Oncologia e atende na Clínica Oncolog



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/2625/visualizar/