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Opinião
Quarta - 24 de Julho de 2019 às 09:38
Por: Rosana Leite

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Na semana passada, por coincidência, duas mulheres com histórias semelhantes, vítimas de violência doméstica e familiar, foram atendidas pelo Núcleo de Defesa da Mulher. Mais uma vez, a destruição do corpo relacionado à sobrevivência econômica delas.

A primeira relatou que viveu por mais de 20 anos com o agressor, e que durante toda a convivência sofreu violência doméstica e familiar. A princípio, de forma sutil, com episódios que ela ficava, inclusive, em dúvida se seria um maltratar. A vinda dos rebentos fez com que ela ficasse anos e anos sem querer enxergar as violências. O mais importante para a família era amealhar patrimônio, ainda que pequeno, para o sustento do lar. E ela em muito contribuía. O seu labor, na verdade, era primordial.

Trabalhava em casa, em um cômodo que fez como o seu negócio informal. Entendia o contexto que estava, porém, esperava dias melhores. Os xingamentos e ofensas pessoais aconteciam naturalmente. Em um fatídico dia, depois de várias ofensas, ele, embriagado, desfere facadas no braço direito da vítima. O sangue jorrava. Ela foi socorrida pelos filhos, já maiores. Sobreviveu, perdendo os movimentos do braço direito.

Não houve compaixão. Apesar de estarem vivas, estão na tentativa de adequação da nova realidade. Passam por desafios para se readequar

A segunda veio de outro estado, deixando toda a família para trás, no intento de acompanhar o grande amor. Nos dois primeiros anos de vida a dois, segundo ela, tudo era maravilhoso. Após o companheiro se acidentar, os problemas foram surgindo. Como ele ficou muito tempo em casa, por conta da queda de moto, o nervosismo aflorou. Ficava indignado de estar precisando tanto da esposa. A sua condição de acidentado o fez ter que ficar sem se levantar por muito tempo. Assim, passou a agredir constantemente. Primeiro foi empurrão, e, claro, o susto dela. Depois uma tentativa de esganar. Aquele bom parceiro do início não mais existia. O “sapo” havia mostrado a cara.

A mulher esperava que ele melhorasse com o tempo, pois no princípio era muito bom. Foram dois longos anos de sofrimento, e o casal já possuía 4 anos juntos. Da última vez, o inacreditável acontece. Ele, com ciúme das redes sociais, de posse de uma faca, desfere algumas facadas em seu pescoço, orelha e braço direito. Por sorte, ainda viveu. Perdeu o movimento do braço.

Acompanhando os casos de violência doméstica e familiar, onde ocorrem as lesões corporais, geralmente há uma tendência do agressor em ferir a vítima em locais que representam a feminilidade, ou, que são primordiais para a vida da mulher. Algumas modelos foram agredidas com ácido no rosto, destruindo a imagem. Outras tiveram os corpos incinerados, o que as proibiu de continuar no labor.

Nos dois casos apresentados, ele, o agressor, destruiu o “ganha pão” dessas mulheres vítimas, os braços. As duas eram cabeleireiras. Hoje não podem desenvolver o trabalho para o qual foram capacitadas.

Não houve compaixão. Apesar de estarem vivas, estão na tentativa de adequação da nova realidade. Passam por desafios para se readequar.

Sofreram e sofrem... São mulheres, fortes e guerreiras...

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.



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