O bem e o mal O Brasil é um daqueles países em que se valoriza muito mais o bom do que o bem
Um dos instintos mais fortes do ser humano é fugir da dor e buscar o prazer. Mas isso pode ser feito de duas formas: a primeira é inteligente, numa visão de longo prazo, ou na outra, com uma visão de curto prazo e efeitos contrários ao que se pretende.
Muitos exemplos podem ser verificados para atestar essas possibilidades: no Brasil, temos milhares de leis e normas protegendo o trabalhador de forma imediata, e no longo prazo, uma renda medíocre, crises na geração de empregos, reforma previdenciária retirando “direitos adquiridos” e vai por aí afora. Nos EUA, os direitos imediatos são mínimos ou até inexistentes, mas no contexto geral, a renda é extraordinariamente maior, a economia é vibrante (neste ano a previsão de aumento do PIB naquele país é de 21,6%) e as oportunidades de trabalho são incontestavelmente maiores e melhores.
Outro exemplo é a diferença na forma de educar nossas crianças: pais que não superprotegem seus filhos os tornam muito mais preparados para a vida
Outro exemplo é a diferença na forma de educar nossas crianças: pais que não superprotegem seus filhos os tornam muito mais
preparados para a vida, ao contrário daqueles em que os pais superprotegem e mimam ao invés de dar amor, limites, responsabilidades e respaldo para tentar e aprender com os erros, obviamente sem perder de vista a segurança mínima necessária.
As políticas econômicas (mal)ditas liberais são a expressão em larga escala dessas diferenças apontadas acima: países que dão liberdade para a genialidade e a capacidade humana de criar e produzir, sem amarras e superproteções de toda ordem, colhem os frutos numa economia pujante, ao contrário daquelas onde o governo quer interferir, a titulo de regular, em todas as searas, chegando ao ponto de propor proibição do saleiro nas mesas dos restaurantes para nos “proteger” dos efeitos danosos do excesso de sal.
Essa luta entre o verdadeiro bem, que pensa no longo prazo, e o mormente bem-íntencionado, que só pensa no curto prazo, se reflete especialmente na política, com eleitores fazendo parte desse mesmo jogo, afinal, quando todos querem o impossível (que sempre é muito bom) apenas os mentirosos conseguem atendê-los.
É muito bom não ter que estudar no final de semana ... é muito bom não ter que cumprir horário no trabalho ... é muito bom não ser responsabilizado por erros e faltas ... é muito bom não ter que ouvir reclamações sobre o trabalho mal feito ... é muito bom gastar sem olhar limites da conta ... entretanto, quem foge da dor no curto prazo colhe dor no longo prazo.
O Brasil é um daqueles países em que se valoriza muito mais o BOM do que o BEM, e é dessa forma que um povo tão bom tenha se tornado refém dos piores indicadores de violência do mundo, e é assim que a busca pelo BOM se contrapõe ao BEM, que no final das contas, se trata apenas de ter a clareza dos resultados no curto e no longo prazo, habilidade que passa longe das que temos em mente na hora de educar nossas crianças, gerando um círculo vicioso de difícil rompimento.
Para nós, adultos, a realidade deveria bastar para a compreensão desse antigo dilema, afinal, creio que não seja só eu quem desconhece um trabalhador americano que sonhe em migrar para o Brasil para gozar de nossa famosa proteção trabalhista, mas o contrário, é público e notório. Mas apesar de termos a realidade diante de nossos olhos, nossos filtros mentais não nos permitem fazer a leitura correta e permanecemos defendendo a vitória do bom, em detrimento do bem.
ESTER INES SCHEFFER é contadora e especialista em Controladoria e em Finanças Empresariais
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