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Opinião
Segunda - 30 de Janeiro de 2012 às 14:08
Por: Bruno Peron

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Bendita a época em que o dinheiro deixará de ser um artifício de deturpações, ganâncias e vaidades, resgatará a finalidade de sua criação, e voltará a ser unicamente facilitador de trocas de valores, cujo procedimento era feito pelo escambo (troca de bens ou serviços).

Haverá um tempo em que migrantes não sairão em busca de trabalho, uma vez que seus lugares de origem saciarão a demanda, o dinheiro não será o objetivo precípuo do labor, porquanto estaremos mais dispostos a oferecer à sociedade aquilo que mais saibamos fazer sem o risco de não ter com que pagar as contas de cada mês.

Deixaremos, ainda, de testemunhar a malversação do dinheiro, o desperdício em bens materiais supérfluos, o consumismo exacerbado, e o bloqueio que muitos sentem por não poder comprar o básico de que precisam para subsistir dignamente. Punge que muitos vivam abaixo da "linha de pobreza".

A concentração de dinheiro continua apontando vítimas e formando delinquentes. A Polícia Civil apreendeu notas de Reais e Euros que somam mais de R$ 3 milhões numa mansão em área nobre do Rio de Janeiro, em dezembro de 2011. A ação faz parte da Operação Dedo de Deus, que prevê prisão de criminosos, inclusive políticos, também de alguns estados nordestinos.

O dinheiro corrompe o homem ou este faz mal uso daquele?

Há situações inapeláveis em que o cidadão tem que trabalhar quase forçosamente a troco das notas que lhe trarão sustento, mas há que cuidar-se para que a obsessão pelo dinheiro não escravize o trabalhador a ponto de que se tenha três ou mais empregos, viva-se para a acumulação, e negligenciem-se outros aspectos da vida, tão caros para a qualidade.

Pelo dinheiro, migrantes sujeitam-se a trabalhos árduos a fim de que paguem, ao menos, as despesas de sobrevivência. Quando é possível, remetem parte de seus proveitos às famílias que deixaram alhures.

A partilha da riqueza brasileira constitui um dos grandes desafios em políticas públicas nos anos vindouros. Guido Mantega, ministro da Fazenda, anunciou que o Brasil termina 2011 como a sexta maior economia mundial com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,4 trilhões e que só não supera o de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França.

O discurso dos economistas e líderes deste setor louva a inserção do Brasil em grupos de comércio e foros internacionais importantes, mas não nos exime o esforço de mudar a cultura do dinheiro, que tanta aflição causa nas mentes indefesas e despreparadas. Uma tarefa global.

Os jovens, assim, não podem crescer associando o acúmulo de dinheiro com o sucesso profissional, como se o primeiro fosse condição necessária do segundo. É preciso oferecer à juventude opções menos materialistas que lhe permitam "vencer na vida" sob risco de que, do contrário, dê-se um jeito de enriquecer se não for pelas vias formais e legais. A família desenha o ponto de partida do trajeto educativo.

A crise que assola o mundo "desenvolvido" evidencia que o dinheiro não deve ser levado ao paroxismo, sobretudo o que se deduz de operações financeiras veladas, discretas e que enchem o bolso de banqueiros. A Fitch Ratings, agência do "Norte" que avalia o risco de investimentos, previu em dezembro de 2011 que o crescimento da zona do Euro seria de apenas 0,4% em 2012, o que indica uma contração expressiva em relação ao 1,6% do ano derradeiro.

A cultura do dinheiro tem-se arrastado ao longo dos séculos com o ideal de acumulação, expansão e reprodução capitalistas através do mercantilismo dos metais preciosos, a revolução industrial, os movimentos financeiros globais.

O componente material (a cédula e a moeda) são indissociáveis do imaterial (como obter dinheiro? o que fazer com ele? é suficiente o que ganho? de quanto preciso? quanto há que trabalhar? quanto é necessário para ter uma vida digna? etc).

A sociedade, por fim, precisa reformular seus valores a fim de que as pessoas se orientem  mais pela confraternização, a saúde física e mental, a contemplação das belezas naturais, o cultivo da educação, e o prazer pelo conhecimento e a troca de experiências.

O dinheiro voltará, assim, a ser mero objeto de trocas em vez de malfeitor do imaginário.



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