Como ficar indiferentes diante do clima de deserto que enfrentamos?
Os altos índices de desmatamentos e focos de incêndio registrados em Mato Grosso e em outros lugares, levam-me a uma série de reflexões acerca da agonia que o meio ambiente vem sofrendo. Estar alerta sobre a árdua realidade da destruição ambiental deixa em mim muita apreensão em relação aos perigos que ameaçam a sobrevivência sadia da população. Estamos todos expostos aos riscos que envolvem a perturbação climática.
Ao ver a fumaça em Cuiabá, sentir o meu corpo sinalizar as consequências do ar quente e poluído e da baixa umidade do ar, não consigo conter o sentimento de compaixão, em especial pelos bebês, recém-chegados, ainda tão frágeis e vulneráveis, tendo que respirar tanto veneno no ar... Como ficar indiferentes diante do clima de deserto que enfrentamos nesta estação?
De repente, sinto vontade de dar um grito de alerta. Meus Deus, para que tanta destruição? Que progresso é esse pelo qual lutam os loucos governantes deste mundo? Será que não conseguem ver o que estão permitindo acontecer? Desse jeito, o que será das futuras gerações? Será que os maiores responsáveis por tamanha destruição do meio ambiente sabem o que é o amor, pelo menos em relação aos seus descendentes diretos?
Ao ver a fumaça em Cuiabá, sentir o meu corpo sinalizar as consequências do ar quente e poluído e da baixa umidade do ar, não consigo conter o sentimento de compaixão
Estão tão cegos que não enxergam o sacrifício que estão exigindo da própria carne? Não vêem que dinheiro e poder não servirão para salvar os seus descendentes das trágicas consequências da quebra do equilíbrio da natureza que ameaça destruir a nossa casa comum? Ou será que se julgam imunes à força e ao poder da natureza?
Também sinto-me tocada pelo canto aflito dos passarinhos. A minha mãe me diz que é o canto de chamado da chuva. Capto a agonia dessas aves tão indefesas quanto uma criança. Elas não sabem que a natureza está doente pela loucura e ganância dos homens que não escutam suas preces ofertadas em canto. Sinto também pesar pelas milhares de árvores centenárias derrubadas, que morreram para dar lugar a imensos campos de soja e pastagens de gado.
Consciente da preocupante realidade ambiental, já não sei mais se a classificação do ser humano como racional é real. Como pode ser assim classificado aquele que destrói a própria casa, que tira a vida de inúmeras espécies que a habitam? E tudo isso para quê? Para atingir o objetivo de ampliar as divisas da riqueza material, sem levar em conta que a natureza agredida comporta-se como um leão ferido? Enquanto aqueles denominados de irracionais vivem de acordo com as leis da natureza e não cometem violações contra a Sagrada Mãe Terra, não é mesmo?
A umidade relativa do ar na nossa capital está baixíssima. Imagine essa condição para quem trabalha nas ruas de Cuiabá num calor de 40 graus. Contudo, em meio à paisagem judiada pela estiagem e pela indesejável presença da fumaça que nos angustia e asfixia, olho ao redor e vejo um lindo ipê amarelo. A visão do ipê todo florido alivia momentaneamente a minha aflição com as condições inóspitas do clima em Mato Grosso. E as palavras do amigo Kiran Kanakia se fazem presentes: “A vida ainda está se movendo. A vida ainda continua. A vida ainda é bonita. Veja-a e ligue-se a ela”.
ENILDES CORRÊA é administradora, terapeuta corporal e escritora.
Comentários