Crônicas de um país que não existe Existe um tal de judiciário de 1ª instância, que só existe para ocupar espaço e dar despesa
Há um país que só existe no papel. Não, Não! De fato ele tem povo, território e suposta soberania, mas na verdade, como país, como nação, ele é um fato imaginário de uma alucinação coletiva. Minha, sua, de todos nós.
Nesse país, por exemplo, existe um tal de judiciário de primeira instância, que só existe para ocupar espaço e dar despesa. Não serve pra mais nada. Qualquer coisa que se decide por lá fica apenas no papel. Não se cumpre, não se executa, não tem nenhum efeito prático, não vale para nada. Alguma coisa começa a funcionar somente na tal segunda instância, porém, funciona apenas mais ou menos.
Nesse país não há representantes do povo. Existe um lugar, chamado congresso nacional, onde, supostamente deveriam estar pessoas que representassem interesses das pessoas que os elegeram. Mas é só fachada. Ali, na verdade, funciona uma empresa blindada que negocia favores (escusos), é esconderijo de larápios e malfeitores, e uma fábrica de leis cujo único objetivo é manter essa empresa funcionando, com alto luxo, grandes privilégios, despesas exorbitantes e, se possível, sempre as mesmas pessoas.
O interessante, nesse país que é uma mistura de contos da carochinha com contos de Stephen King, é que se alardeia que não há dinheiro para construir hospitais, saneamento básico e escolas, mas torra-se 2 bilhões de reais num tal fundo eleitoral para eleger os larápios e malfeitores acima.
Torra-se mais de 1 bilhão de reais num tal fundo partidário, para manter partidos totalmente inúteis: partidos comunistas que não tem nenhum comunista como membro, partido de trabalhadores em que ninguém trabalha, partido democrático cujos membros são verdadeiros "coronéis", partidos republicanos em que quase todos os seus atos são antirrepublicanos, partidos sociais em que o social é um item inexistente em seu estatuto.
Nesse país, por exemplo, existe um tal de judiciário de primeira instância, que só existe para ocupar espaço e dar despesa
Nesse país, há um código de trânsito super extenso, o terror de quem vai fazer prova para tirar a CNH. Obriga-se a fazer escolinha (uma fortuna) para "aprender" a dirigir. Nota-se que esse código é apenas uma obra de ficção cujo único propósito é dar justificativas para se multar as pessoas.
Essas escolinhas servem apenas como um passo burocrático custoso, visto que logo após a retirada da CNH ninguém nem se lembra das lições que aprendeu simplesmente pelo fato de que deixam de usá-las. A imensa maioria não respeita nada e nem ninguém. Salve-se quem puder.
Nesse lugar distante, presidiários, torturadores, fraudadores, terroristas, alcoólatras, homicidas, feminicidas, guardadores de dinheiro no paletó ou na cueca ou na caixa de ovos, ou seja, quaisquer criminosos, podem concorrer aos cargos eletivos, inclusive à presidência da república – de dentro da cadeia! E metade da população acha normal!
E detalhe, aparentemente, há mais leis para proteger criminosos que os cidadãos de bem. Há mais mecanismos para beneficiar quem comete crimes, que aqueles que não o cometem. Você é filmado acima da velocidade, e é multado sem dó nem piedade. Mas é filmado dirigindo alcoolizado e matando um pedestre, mas talvez você seja inocente. É um show de horrores sem fim.
E por fim, o país é tão sui generis, que apesar de há décadas sofrer com queimadas e desmatamentos, saibam que queimadas e desmatamento são permitidos pelo poder público, inclusive com autorização oficial para isso. E, mesmo que você queime e desmate sem autorização, no final sabe o que acontece? Nada. Tudo vira cinzas.
Eustáquio Rodrigues Filho é cristão, servidor público e escritor.
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