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Opinião
Segunda - 04 de Novembro de 2019 às 15:28
Por: Auremácio Carvalho

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Sem dúvida, a tempestade diária e incontrolável das falas do presidente da República é, não somente inusitada na história política brasileira, como também, além de desafetos e amigos ou seguidores do “mito” Bolsonaro, mostra uma característica de personalidade doente, perturbada, ou, com um pouco de exagero, paranoica. Teme-se já, nos círculos mais ligados ao presidente, ministros e assessores diretos, sobre um esgotamento mental do presidente, pois, até em importante viagem internacional - aliás, bem sucedida do ponto de vista diplomático e comercial, passa 24 horas atacando adversários, como vimos no vídeo dessa madrugada (gravado, por certo, do quarto do hotel), onde ataca o governador do Rio de Janeiro, como autor de um vazamento de dados de um inquérito que está sob segredo de justiça, no STF.

Ataca, ainda, como é seu feitio, a imprensa na pessoa de uma grande emissora nacional, que, ao contrário do que afirma, o defende no caso Marielle. No vídeo das hienas e do leão herói: PT, STF, PSB, ONU, OAB, PSL, Câmara Federal, Senado e outros “inimigos”, o grau de autoritarismo e coronelismo político atinge o ponto máximo: “ou se está com ele, ou não tem conversa, é inimigo”. Repetindo Luiz XV - da França: “O Estado sou Eu”. O ministro decano do STF - Celso de Melo, deu resposta à altura, ante o silêncio inexplicável ou conivente dos outros poderes ou instituições atacados, pelo destempero verbal do presidente: "evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções". E, acrescentou: “É imperioso que o Senhor Presidente da República – que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso País absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados – saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o a Magistratura do Brasil.”

No fundo, Bolsonaro revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, inteiro, nas trevas dos porões da ditadura militar, que continua cultuando e justificando. O Brasil sobreviverá a Bolsonaro?

É claro, que todos sabemos que o vídeo foi publicado pelo filho Carlos, que posta as mensagens no twitte do pai. Mais uma do zero 01. Aliás, os 03 zeros tem destruído a imagem do pai e do seu governo. Nem o pai, nem eles, desceram do palanque. Aliás, os brasileiros já buscam os jornais televisivos matinais para saber qual “a besteira do dia”, que será o assunto de Estado mais importante, nada de práticas e políticas de governo, mas, xingamentos, agressões, fake news, estes sim, é sua preocupação como dirigente maior do Brasil.

Ao se reunir na Arábia Saldita, com o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, o mesmo responsável pela morte e esquartejamento de um jornalista, como o mundo sabe, comentou: "todo mundo" gostaria de passar uma tarde com um príncipe, "principalmente as mulheres". Precisa dizer mais? Um cientista político afirma que “Bolsonaro governa para 1/3 da população; 1/3 habita o território da oposição e um pouco mais de 1/3 fixa-se, por enquanto, no centro, um olho olhando para a esquerda, outro para a direita”. Ou seja, como menos de 01 de governo, sua aceitação beira os 30%. E ainda, tem 04 anos de governo, ou de destemperos BBB.

É evidente, para aqueles eleitores que votaram em Bolsonaro para barrar o terror da volta de Lula, e que pensam, a decepção já não pode ser escondida. Votamos num presidente e temos 04: ele e os 03 zeros-filhos que mandam e desmandam no governo, como é notório diariamente pela mídia, e o desconforto que causam aos ministros que, temerosos, se calam. As confusões e encrencas jurídicas dos filhos estão longe de terminar, embora abafadas por mãos amigas do judiciário. O Queiroz é uma bomba de efeito retardado, pelos recados que tem mandado em busca de proteção pela chance de ir para a cadeia. Conhece muita coisa, e pode causar um estrago em toda família do imperador Bolsonaro.

O “cometa” pode se chocar com o reino bolsonariano. Os ataques verbais ao recém-eleito presidente da Argentina - Alberto Fernandez, ultrapassou todos os parâmetros da liturgia do cargo de Presidente. Também, houve o Lula Livre do outro lado. Mas, terão de conviver juntos no Mercosul. Lula solto e nas ruas - o que é provável, estará aberta a temporada da sucessão presidencial, não temos dúvida. O povo aguentará outro Lula x Bolsonaro? Não teremos uma 2ª ou 3ª via? Mas, sem dúvida, o preocupa todos nós é a inadequada, agressiva e destoante postura do Presidente Bolsonaro, em diariamente, cavar um fosso entre os brasileiros, um “nós x eles”, talvez pior que o da época de Lula. Talvez, não há personalidade mais fácil de ser analisada, mesmo por um leigo em Psicologia, do que Bolsonaro.

Como ensina Freud, a personalidade dele, como a de todo mundo, se divide supostamente em três partes: id, ego e superego. O id é o lugar da libido primária, dos instintos sexuais básicos, dos desejos reprimidos, dos traumas, do ódio contido. O ego é a personalidade aparente, que se espera normal. E o superego é a parte da psique que deveria controlar o todo a partir da percepção das limitações impostas pela convivência social. Bolsonaro, como se pode deduzir facilmente, não tem superego. Seu ego funciona absolutamente livre, sob controle total do id, ou seja, dos instintos básicos. É por isso que ele se move pelo ódio. O episódio do pai do presidente da OAB, foi um exemplo claro: além de cruel com um morto pela Ditadura, chocou a família pela crueldade dos comentários. Agora, com o poder de Presidente da República - todos se julgam acima do bem e do mal - Bolsonaro se acha no direito de fazer qualquer violência. É sua grande oportunidade de pôr para fora o id que traz dentro de si, gozando de total liberdade de ação e, quem sabe, de irresponsabilidade e impunidade.

A Constituição Imperial, de 1824, “outorgada”, dizia em um de seus artigos que “O monarca é irresponsável”. Boa ideia para uma PEC bolsonarista. Ou, como diz um observador político, “A personalidade fragmentada de Bolsonaro se reflete no seu discurso. Não tem uma fala contínua e fluente. Fala aos pedaços. É um típico tuiteiro que seria incapaz de escrever uma carta.” No fundo, Bolsonaro revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, inteiro, nas trevas dos porões da ditadura militar, que continua cultuando e justificando. O Brasil sobreviverá a Bolsonaro? A sua metralhadora verbal pode se virar contra ele, o que parece já está acontecendo. Está se isolando politicamente. Isso não é bom para a democracia brasileira. Parodiando Maquiavel: “os filhos justificam os meios”.

AUREMÁCIO CARVALHO é advogado.



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