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Opinião
Sábado - 09 de Novembro de 2019 às 07:50
Por: Sérgio Cintra

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“Viagem à Lua”, de Mèlie, filme mudo do início do século XX, atraiu multidões às “salas” de cinema da época. Isso ocorreu não só pela ideia inusitada mas também pela inovação tecnológica relacionada à captura do movimento. De salas improvisadas e películas de alguns minutos a espaços suntuosos e super produções; todavia, ao se transformar em indústria, o cinema passou a ser regido pelo mercado. Nesse contexto, não restam dúvidas que, ao democratizar o acesso à Sétima Arte, o Brasil não só melhorará diversos indicadores sociais como também aumentará a capacidade de reflexão das pessoas.

Obviamente, se a população tem acesso a espetáculos cinematográficos, pressupõe-se que os demais indicadores de qualidade de vida sejam, no mínimo, satisfatórios. Assistir, por exemplo, ao “Coringa” – lançado recentemente em pouquíssimas cidades brasileiras – o espectador revela bem mais que o interesse pelo tema “depressão”; antes, expõe seu bem-estar, sua condição socioeconômica para desfrutar daquele filme. Assim, ir ao cinema indica que outras necessidades básicas já estejam supridas.

Além disso, cinema é Arte e como tal gera, necessariamente, reflexão. Chaplin, em “Tempos Modernos”, discute a desumanização. Na mesma seara, o distópico “Ella”analisa a relação homem x robô: filmes produzidos em épocas distintas e com recursos tecnológicos díspares e, ainda assim, capazes de provocar questionamentos na sociedade.

Portanto, indiscutivelmente, é preciso garantir a descentralização desse veículo cultural aos cidadãos dos 5 570 municípios do país. Cabe ao “Ministério” da Cultura criar um programa que facilite a proliferação de salas de cinema nas pequenas cidades, isso se dará por meio da distribuição de filmes e de crédito subsidiado para a construção desses espaços – aliás, os mesmos deverão ser multiuso – com a finalidade de ampliar o público “luz, câmera, ação”, fazendo com que tanto George Mèlie quanto Glauber Rocha (“Terra em Transe”) não sejam apenas uma “fotografia na parede”, mas uma realidade no cotidiano dos brasileiros.

Sérgio Cintra é professor de Redação e de Linguagens em Cuiabá.

sergiocintraprof@gmail.com.br

Obs.: o texto acima é a reprodução quase fidedigna da minha redação no Enem. Apesar da 30 linhas, achei o espaço insuficiente para argumentar adequadamente. Com certeza, este escriba não possui a capacidade de síntese.

Obs. 2: Eu e muitos colegas consideramos o tema “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” anacrônico, irrelevante e excludente à medida que há outras maneiras de promover acesso a filmes; que, diante da pluralidade garantida pela internet, as salas de cinema tornaram-se caras e obsoletas; que, por fatores mercadológicos, ir ao cinema é privilégio de uma minoria socioeconômica. Assim, o Inep perdeu a grande oportunidade de trazer à baila um tema mais relevante para, diretamente, mais de cinco milhões de brasileiros e, indiretamente, para toda a nação. Sintetizando: um tema “nem… nem..” para perpetuar um povo “nem… nem…”.



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