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Opinião
Sábado - 02 de Novembro de 2019 às 07:42
Por: Julio Cezar Rodrigues

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A ex-candidata a Vice-Presidente da República do “poste” do presidiário de Curitiba esteve em Cuiabá dia 31/10. Aproveitou para discursar e emitir sua opinião sobre a fala do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro. Para Manuela D’Ávila “nós precisamos mostrar para a nossa juventude, para o nosso povo, que este país não tolera a ditadura, não tolera o autoritarismo” (disponível em https://www.olhardireto.com.br. Acessado em 01/11/2019), referindo-se à fala de Eduardo Bolsonaro ao citar o AI-5.

Neste contexto, podemos considerar Manuela como a porta-voz da narrativa esquerdista sobre o dito episódio. Antes, porém, o que disse o Deputado de tão polêmico?


A fala de Eduardo Bolsonaro ocorreu em entrevista para a Jornalista Leda Nagle. Segundo ele "vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando se sequestravam, executavam-se grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares”. Ele continuou: "se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália, alguma resposta vai ter que ser dada, porque é uma guerra assimétrica, não é uma guerra onde você tá vendo seu oponente do outro lado e você tem que aniquilá-lo, como acontece nas guerras militares. É um inimigo interno, de difícil identificação aqui dentro do país. Espero que não chegue a esse ponto né? Temos que ficar atentos". (disponível em https://www.olhardireto.com.br. Acessado em 01/11/2019).


O Ato Institucional nº 5, AI-5, foi baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, vigorando até dezembro de 1978. Tecnicamente, podemos considerar como “ditadura” este período, e não o tempo total de regime militar (1964/1984). Para o historiador Marco Antonio Villa, no seu livro “Ditadura à Brasileira”, no período do AI-5 o Poder Executivo teve plenos poderes e os exerceu de forma ditatorial, submetendo a sociedade civil e os poderes Legislativo e Judiciário aos seus desígnios.


Feito este esclarecimento histórico, voltemos ao caso. O objetivo desta ‘doxa’ (opinião) não é defender o Deputado, mas expor ao juízo do leitor, em função do evento, a postura da esquerda política e a sua dissonância cognitiva ao tratar o fato. A leitura atenta da fala do Deputado (acima transcrita) mostra que a referência ao instituto do AI-5 deu-se como uma espécie de “solução”, no plano abstrato, em um quadro de ruptura radical do tecido social por alguma espécie de movimento político que lidere massas contra a ordem vigente (o Chile, atualmente, passa por algo semelhante). No meu entendimento, a crítica seria mais producente caso fosse ofertada no sentido de que o Deputado poderia ter citado como resposta do Estado Brasileiro, em uma suposta situação de quebra radical da ordem, os mecanismos já previstos no Título V da Constituição (Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas), ou seja, o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. Mesmo assim, é forçosa a imputação ao Deputado de fazer apologia a ditaduras ou a moralidade “em si” do instituto do AI-5, referenciado como uma espécie de “remédio amargo” e transitório em eventual resposta de um Estado contra a sua dissolução e transformação em outro modelo, agora sim, mostra a historiografia, de natureza totalitária.


Causa espécie quando a Senhora Manuela D’Ávila atribui a prática de crime à fala do Deputado. Ora, seria o caso de perguntar a ela ou aos demais representantes da esquerda “democrática” (seja lá o que isso signifique) qual o significado do artigo 1º do Estatuto do PCdoB a seguir transcrito: “O Partido Comunista do Brasil luta contra a exploração e opressão capitalista e imperialista. Visa conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados, PROPUGNANDO O SOCIALISMO CIENTÍFICO. TEM COMO OBJETIVO SUPERIOR O COMUNISMO. AFIRMANDO A SUPERIORIDADE DO SOCIALISMO SOBRE O CAPITALISMO, almeja retomar um novo ciclo de luta pelos ideais socialistas, renovados com os ensinamentos da experiência socialista do século XX, e desenvolvidos para atender à realidade do nosso tempo e às exigências de nosso país e nossa gente” (disponível em http://www.tse.jus.br/).



O Leitor não leu errado e tampouco foi retirado de contexto. Também não se trata da reprodução de uma cartilha do guerrilheiro Marighella ou do Livro Vermelho do Mao Tse Tung. Há no Brasil um “partido político”, ao qual a Sra Manuela é filiada, cujo projeto político é implantar o sistema comunista. Apenas para rememorar ao Leitor mais jovem, os projetos comunistas implantando no século XX foram responsáveis pela morte de pelo menos 100 milhões de pessoas. Quem se interessar recomendo a leitura do “Livro Negro do Comunismo” que relata o saldo estarrecedor de mais de sete décadas de história de regimes comunistas: massacres em larga escala, deportações de populações inteiras para regiões sem a mínima condição de sobrevivência, expurgos assassinos liquidando o menor esboço de oposição, fome e miséria que dizimaram indistintamente milhões de pessoas, enfim, a aniquilação de homens, mulheres, crianças, soldados, camponeses, religiosos, presos políticos e todos aqueles que, pelas mais diversas razões, se encontraram no caminho de implantação do que, paradoxalmente, nascera como promessa de redenção e esperança. É isto que a Sra Manuela D´Ávila, através do seu partido, sonha para o Brasil? Por que ela não explica para a sociedade brasileira o real motivo da existência do seu partido? Por que defendem democracia, quando, na verdade, a ideologia que fundamenta o partido é de natureza totalitária? Se não “tolera a ditadura, não tolera o autoritarismo”, como afirma histrionicamente, o que faz nesse partido? Por que a imprensa “isenta” não explora esse assunto?



Poderíamos ainda citar, embora já fosse repetitivo, o comportamento dos representantes políticos da esquerda, notadamente dos partidos que gravitam em torno do PT, o apoio que prestam aos regimes autoritários e ditatoriais de países como Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, Bolívia e ditaduras da África. Essa esquerda, que se auto afirma como “progressista”, na realidade não concebe a democracia como um fim em si mesmo, senão como meio para a conquista do poder e, com o agigantamento do Estado, atingirem o totalitarismo. São mentes esquizofrênicas, destituídas de sanidade política e profundamente contaminadas pela leitura marxista da história, reformulada pela Escola de Frankfurt e Gramscismo. Assim, escamoteiam seu discurso, cuja raiz não pode ser exposta à luz da razão, e dissimulam-se através de uma linguagem já pacificada aos seus desígnios. Tudo, é claro, sob a proteção do manto do “politicamente correto”, a patrulha ideológica criada para apagar e submeter ao limbo qualquer narrativa que não coadune com a mensagem ideológica/utópica que alimenta o imaginário político dessa gente.



Devemos temer quem defende a superioridade do socialismo sobre o capitalismo. Este tem ampla superioridade moral sobre aquele. Trata-se do único arranjo viável, sob o ponto de vista da liberdade humana, capaz de retirar milhões de pessoas da pobreza material absoluta, como já encontra-se documentado pela historiografia.



Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)



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