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Opinião
Segunda - 26 de Dezembro de 2011 às 14:06
Por: Bruno Peron

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A América Latina manifesta crescentemente a qualidade de sua produção artística e criativa e reconhece as potencialidades que ainda tem para desenvolver. Ainda, seus produtores e promotores esforçam-se para dinamizar este registro e inserir suas obras em circuitos com os que há pouco tempo nem se sonhava.

Os meios de interligar produção, circulação e consumo da cultura têm sido ainda escassos, o que se deve em parte à falta de experiência e financiamento, mas a região tem obtido êxito relativo nesta tarefa e diversificado a estratégia.

A segunda edição da revista ArteSur sobre artes visuais apresentou-se no final de novembro de 2011 na ALBA Cultural, em La Habana, Cuba. Este número da revista contém documentos, desenhos e imagens de museus importantes dos países membros da ALBA (Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América), a saber Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua, Venezuela e alguns países caribenhos.

As publicações desta revista são bilíngues (em espanhol e inglês) e provavelmente serão anuais. O patrocínio vem do Fondo Cultural de la Alternativa Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América.

Ismael González, coordenador do programa ALBA Cultural, salientou a função da revista de despertar a atenção sobre as artes visuais desde o pensamento radical no contexto latino-americano e caribenho. É um esforço comum entre gestores culturais da nossa região reduzir a hegemonia dos países do Norte na definição dos rumos mundiais de arte e criatividade. Até então o conteúdo destes termos havia sido associado quase integralmente ao que se produzia nos países "desenvolvidos".

A revista expressa seu ideal integrador dos povos do "Sul", promove redes de intelectuais, e considera alguns documentos e ideais de personagens de renome no latino-americanismo. Gera, ainda, espaços de "diálogo" e "confrontação" entre artistas visuais latino-americanos e os de outras regiões desde uma perspectiva "descolonizadora" e "anti-hegemônica".

O projeto ambiciona oferecer uma alternativa em artes visuais ao que emana dos centros e instituições de países que se achavam "mais desenvolvidos" e determinavam as tendências no setor, o que devia ou não ser apreciado, e atribuíam critérios valorativos sobre o campo artístico. O comitê editorial da revista ArteSur luta também contra as inclinações "excludentes" e "totalizadoras" do mercado.

Rubén del Valle, diretor da revista, relembrou também o esforço dos promotores deste projeto editorial de divulgar as produções artísticas da América Latina ao público a fim de que a revista seja tomada em conta. Não é demais recordar a amplitude da categoria "artes visuais", que envolve arquitetura, desenho, escultura, filme, fotografia, moda, pintura, animação gráfica, etc.

Projetos como o da revista ArteSur desenvolvem um potencial imenso da América Latina na medida em que desloca a ênfase de produção a circulação e consumo de seus bens culturais. É preciso aproveitar as conexões internacionalistas que se nos abrem, mas sem qualquer tipo de desprezo e negligência das culturas que não são nossas sob risco de reincidir num desacerto que se quer abolir.

Assim, enveredamo-nos nessas conexões com estratégias discursivas muito diferentes das que tiveram os colonizadores e hegemônicos, que hoje mastigam uma crise de mercado e especulação financeira que eles mesmos ensejaram. Contamos com que este vento econômico negativo que assola sobremaneira o mundo "desenvolvido" nos vergaste com intensidade menor.

A América Latina dispõe de alternativas naquilo que produz e na estratégia de divulgação. Por que esperar mais tempo para que nossas artes visuais tornem-se conhecidas, dignas de prêmios internacionais e se saiba mais de nós alhures?



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