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Opinião
Quinta - 09 de Abril de 2020 às 10:50

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Conforme já anunciado, além da pandemia, as mulheres passam por outro desafio dentro dos lares: o aumento da violência. Mundialmente tem sido divulgadas situações de violência doméstica e familiar a que elas ficaram expostas, principalmente, pelo isolamento social.

Ficar em quarentena com os seus algozes tem surtido efeito negativo ao gênero feminino. Histórias de “terror”, para além do COVID-19, acontecem. Mulheres, seus filhos e filhas, já sentem o quanto tem sido difícil o momento da quarentena, quando o ciclo da violência doméstica e familiar já habita nos lares. Sem contar aquelas que não haviam sentido estar em residências tóxicas, e que descobriram através do confinamento.

Na Argentina, em época de coronavírus, a mídia relatou a morte de Cristina Iglesias e sua filha Ada, de apenas 7 anos, na periferia de Buenos Aires. Após o sumiço das duas, cães adestrados guiaram policiais até um poço cavado na moradia delas. Encontraram os corpos empilhados com punhaladas no pescoço. O assassino foi Romero, que vivia um relacionamento amoroso com a vítima adulta há apenas dois meses.

No Reino Unido, Geeta, contou sobre o que está passando. Segundo ela, o seu companheiro, que transporta passageiros em triciclo, viu a sua renda diminuir sendo obrigado a ficar dentro de casa. Assim, ele vem agindo com muita violência em casa, principalmente com a mulher.

O homem utiliza de bebida alcóolica com frequência, e passa a agredir a companheira, como se ela fosse a culpada das adversidades que estão vivendo. Ultimamente as agressões físicas aumentaram, sendo ela puxada e arrastada pelos cabelos em determinada ocasião. Objetos dentro da casa são atirados. Os dias estão muito difíceis para essa família.

Conforme já anunciado, além da pandemia, as mulheres passam por outro desafio dentro dos lares: o aumento da violência

Na Itália, o enfermeiro Antonio De Pace confessou ter matado a namorada Lorena Quaranta, que é médica. A vítima e ele trabalhavam no mesmo hospital em atendimento a infectados pelo coronavírus.

O feminicida, após cometer o delito, telefonou às autoridades policiais e comunicou ter perpetrado o crime, pois, a sua “amada” havia lhe transmitido a doença infecto contagiosa. Tentou o suicídio, mas, foi socorrido a tempo.

A mulher, médica recém formada, havia publicado texto em rede social: “Agora, mais do que nunca, precisamos demonstrar responsabilidade e amor pela vida. Vocês devem demonstrar respeito por si mesmos, suas famílias e o país. Vamos ficar todos em casa. Vamos evitar que o próximo a adoecer seja um ente querido ou nós mesmos.” A universidade na qual a médica concluiu o curso afirmou que entregará o diploma aos seus familiares como homenagem póstuma.

Mencionar esses casos de violência doméstica e familiar pode deixar a sensação de que é a enfermidade responsável pelas tragédias dentro de casa? Seria a sensação de impotência causada pela adversidade, com possibilidade de diminuição da renda mensal? Ou, será que os casais não conseguem ficar muito tempo a sós, principalmente, se são obrigados a tal?

Não. Nenhuma das perguntas acima pode justificar qualquer forma de agressão. Não é o afastamento do convívio social o responsável também. É muito mais que tudo isso. Essa violência é real de há muito. O desprezo dos homens pelas mulheres sempre foi banalizado. A questão de gênero deve estar mais uma vez em pauta, porquanto, “bate às portas” e “escancara” as mais variadas agressões e mortes delas, por conta da violência dentro e fora de casa.

O confinamento pode ter potencializado essas violências. Todavia, esses homens que se mostraram agressores nesta época, o são “in natura”. Aliás, sempre foram. Nada poderia os fazer deixar de ser do dia para a noite. Eles apenas mostraram a face perversa do abuso e desrespeito contra elas.

Nada justifica!

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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