Um pilar cai, outros balançam Não sabemos se isso vai dar em impedimento do presidente ou se consegue sobreviver
É um desafio muito grande e também um enorme risco para jornalistas e articulistas escreverem sobre temas de grande apelo popular enquanto eles estão se desenrolando. O perigo é que, a rigor supõe-se, mas ninguém sabe o rumo que uma tempestade vai tomar no estágio seguinte.
É bem o caso o episódio da demissão do ministro Moro. Não sabemos se isso vai dar em impedimento do presidente ou se ele consegue sobreviver. Mas se o futuro é incerto o presente é traumático: o dólar que já estava descontrolado enlouqueceu; a bolsa que vinha capengando, mas recuperando-se lentamente da pandemia e do debacle do petróleo, atolou-se mais ainda no brejo.
Há alguns cenários possíveis:
a) O presidente se transforma em um Temer piorado. (Desde a delação da JBS o então presidente gastou todo a força política fazendo acertos e conchavos para manter-se no cargo, comprometendo toda a capacidade de governar.).
b) Tornar-se uma Dilma que sangrou publicamente até ser definitivamente defenestrada da Presidência.
c) Transformar-se, para continuar no cargo, num refém do Centrão virando uma marionete dos sambados políticos que vão tirar-lhe o couro.
d) Renunciar.
A atual situação do País é muito pior que as vividas por Dilma e Temer por conta da pandemia da covid-19 que detonou a economia mundial. Por isso as alternativas A e B, parecem ser as piores, pois iriam dilacerar ainda mais a combalida finança brasileira.
A renúncia é improvável, por isso teremos conviver com essa situação de ter um Presidente que interfere na Polícia Federal, um dos órgãos mais sérios dessa anêmica República, para ter acesso pessoal a inquéritos, principalmente aos que envolvem seus filhos.
A nomeação feita para a diretoria da Polícia Federal de pessoa quase da cozinha do Presidente e apadrinhada pelos filhos enrascados na própria organização, não deixam a menor dúvida da veracidade da acusação feita pelo Moro do interesse dos Bolsonaros de controlar a Polícia Federal.
Não resta duvida que provocar a demissão do Ministro Sérgio Moro agradou em cheio ao Centrão, cujos parlamentares sempre foram avessos ao ministro. Tanto é verdade que esses mesmos políticos apressaram-se em sair em defesa do Presidente.
Nem o PT, de nefasta memória, chegou a ponto de interferir nas investigações da PF, mesmo nos momentos em que ela voltava-se contra Lula e Dilma, como afirmou o Ministro demissionário em seu discurso de saída.
Acrescente-se, para piorar o que já está péssimo, que o Presidente anda desprestigiando o Ministro da Economia Paulo Guedes, um dos pilares, senão o mais robusto, da economia brasileira.
Além disso, permite que o Chanceler Ernesto Araújo e o boquirroto Weintraub detonem a China, nosso principal parceiro, comprometendo o trabalho da Ministra da Agricultura Tereza Cristina que faz tudo para manter e ampliar os negócios de produtos agrícolas com aquele país.
Os baluartes do governo foram ou estão sendo derrubados. Ganham importância os restolhos Araújo e Wintraub orientados pelo Olavo de Carvalho e aplaudidos pelos filhos do Capitão.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.
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