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Opinião
Sábado - 02 de Maio de 2020 às 06:42
Por: Hugo Fernandes

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Você acha mesmo que o grande problema do Brasil é a corrupção? Acha que o sistema político italiano, grego, inglês, francês ou norte-americano é menos corrupto que o brasileiro? Acha que existe menos corrupção em Wall Street do que na Avenida Paulista? Acha que a guerra e a reconstrução da cidade de Bagdá, no Iraque, privilegiou um grupo empresarial menor do que as construções dos estádios erguidos para o Mundial de futebol de 2014 no Brasil?

Se a resposta a todas essas questões foi sim, alerta. Cuidado! Pois junto da tese de “sociedade corrupta” se introduz uma outra tese sórdida, de um racismo científico propalado repetida vezes pela teoria social de Max Weber, em sua obra máxima – ‘Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo’. Para ele, haveria a existência de povos moralmente melhores e, por consequência, mais merecedores dos privilégios só acessados pelo capital financeiro. Uma tese muito bem aplicada por Goebbels, Mussolini e Hitler, da dominação social pelas superclasses sociais ou raças superiores.

E se você ainda realmente acredita no conceito de meritocracia, outro alerta. A premissa é excludente e permeia todo o extrato social, segundo a qual não teríamos, então, iniciado passos atrás nesta corrida pelo progresso do capital social e moderno desenvolvimento econômico. Contra a maré, a máxima famosa do “jeitinho brasileiro”, de alcunha de Roberto da Matta, que naturaliza o pejo do complexo de inferioridade. Este sentimento bastardo e inglório que está incrustrado no mais profundo âmago de muitos brasileiros, em crise de identidade, fantasiado de patriotismo e patrimonialismo.

Os defensores da nação, do “pseudo-patriotismo”, usam símbolos da nação como pano de fundo para a formação do cenário ideal para a introjeção dos conceitos neoliberais do autoproclamado filósofo, Olavo de Carvalho. Aquele que trocou o Brasil, em 2005, por Richmon, Estados Unidos. E diga-se que são bravos brasileiros, corajosos em assumirem-se inferiores, pertencentes a uma sociedade exótica, latino-americana, portanto, moralmente inferior. Defendem que para prosperar, é preciso banhar-se nas águas das fontes do culturalismo simbólico norte-americano.

Mas onde ficam os inúmeros casos de corrupção que também assolam àquela nação? De Edward Snowden (Barack Obama) a Mark Zuckerberg (Donaldo Trump). Sejam eles democratas ou republicanos. Mas a corrupção, no caso brasileiro, recebe do sociólogo Jessé Souza o rótulo de “ouro de tolo”. Para um bom pantaneiro, “boi de piranha”. Acredite: existe um vilão ainda mais cruel, pior do que a corrupção que grassa no Estado, em parceria com a elite de empresários, lobistas e agentes públicos e suas pautas de interesse. Seu nome é desigualdade social.

A demonização do estado e a divinização do mercado, visto que os empresários são os que saem mais rápido da cena do crime em todos os escândalos em casos de crime de lesa-pátria. E ai, ao meu ver, usam da força de dominação social, para aplicar os protocolos do discurso do neoliberalismo econômico e do conservadorismo social como a panaceia gloriosa que irá nos livrar de todo o mal, de todos nossos pecados. Solução cara! A custo de suor do trabalhador, especialmente do braçal, que habita na base da pirâmide.

Aqui me incluo, como jornalista. Acontece que a imprensa brasileira tem por hábito cobrir massivamente a corrupção estatal. São raríssimos os escândalos de corrupção dentro de empresas privadas que ganham os noticiários. E quando acontece, é comum que estejamos falando daquelas empreiteiras que prestam serviços aos governos, recebem dinheiro público e, de brinde, ganham os flashes e holofotes do controle social.

No Big Brother da vida real, há que se compreender que não somos menos ou mais corruptos do que outros povos ou nações. Somos únicos, singulares, sui generis, diversos, miscigenados. Aqui, 1% da população possui mais riquezas do que a outra metade, a dita “ralé”. São 58 bilionários no Brasil, conforme o último levantamento da revista Forbes. Ao passo que milhões de brasileiros sobrevivem com R$ 1.045,00 de salário mínimo, dos quais R$ 517,51 são destinados à compra de alimentos, revela pesquisa do DIEESE.

Nessa disputa, ainda nota-se que parte considerável da “ralé” ainda insiste em defender a simbiose do discurso pró-manutenção do status quo. Tudo lindo nessa relação de domínio social. Assim, perdeu direitos trabalhistas e previdenciários. Passou a responder por CNPJ. Só que agora, estranhamente, corre para regularizar o CPF, para ter acesso aos programas sociais de um governo que, assim como ele, também tombou na curva da estrada neoliberal. Eis o famigerado Estado lançando mão de um socorro presente na angústia. Populismo de direita?

Te convido a olhar um pouco mais além, para cima e para baixo, neste “Poço” (assista na Netflix). Num mundo de muitos patamares de desigualdades, com grave crise sanitária global, surge o momento ideal para Jair Bolsonaro eternizar seu nome na história do Brasil, como grande estadista. Haverá culhão para enfrentar os interesses dos magnatas? Terá coragem de defender a regulamentação do dispositivo constitucional que estabelece, desde 1988, a taxação às grandes fortunas? Se não, precisará explicar com quem vai dividir a conta. Será que mais uma vez com os trabalhadores?

*Hugo Fernandes é jornalista, especialista em Comunicação Estratégica, Assessoria de Imprensa e Marketing Político.



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