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Opinião
Quarta - 06 de Maio de 2020 às 06:20
Por: Talita Meurer

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Decidi que queria um cachorro quando terminei a faculdade. Era o primeiro passo para formar minha própria família. Só que eu acabei colocando o carro na frente dos bois, pois eu ainda não tinha casa, morava com meus pais, e estava dando um passo sem pensar nas consequências. Mas elas vieram e nós dois, eu e o cachorro, fomos convidados a achar uma casa só pra nós. Poderia ser o início de uma história triste e que deixou feridas na minha vida, mas foi exatamente o contrário. A Lilo (sim, uma fêmea) era tão destrutiva que eu tive que readaptar minha rotina para dar conta da energia dela.

No começo, fazia isso por obrigação, pois sabia que a casa ia sofrer se eu não fizesse, mas com o tempo, peguei gosto. Acabei mudando o boteco do fim do dia e a balada do fim de semana por uma caminhada no parque e uma trilha no morro de Santo Antônio ou uma subida pra Chapada.

Com essa mudança também vieram novos amigos, entrei num grupo de cachorros, e sem perceber, passei de uma pessoa que só saía de casa pra comer e beber, pra uma pessoa que fazia caminhadas diárias e estava frequentemente em contato com a natureza. Além disso, aprendi a aproveitar minha própria companhia. Pela primeira vez eu chegava em casa para um apartamento vazio, tinha terminado um relacionamento, estava mudando de grupo de amigos, assumindo boletos e tudo parecia ter uma proporção enorme na minha vida, mas a Lilo e os bons hábitos que ela trouxe consigo, seguraram a barra e, por mais que eu passasse a semana toda só, eu não me sentia mais sozinha.

Veja bem, eu ainda me considero nova, por isso o barzinho não saiu totalmente do meu itinerário, porém, para retribuir, agora levo sempre a Lilo comigo. Pode parecer inusitado levar um cão a um bar ou a um restaurante, mas era minha forma de compensar a companhia dela, não deixando ela trancada em casa sozinha nos poucos momentos que tinha disponível. E daí, para levá-la junto nas próximas férias foi um processo natural.

Hoje estamos aqui, passando nossa quarentena na Grécia, depois de decidirmos morar num carro por um ano. Hoje a Lilo mudou, já está uma senhorinha e sua energia não é mais a mesma. Não precisa mais de longas caminhadas ou de muito exercício, mas o favor que ela me fez persiste: eu aprendi a gostar do nosso tempo sozinha e continuo gostando de programas mais saudáveis ao ar livre. E isso tem contribuído muito para minha saúde mental nessa quarentena. Ler um livro com um cão aos seus pés não é o mesmo que ler um livro sozinha. Ter um cachorro é não estar só, e nessa época de reclusão, isso pode fazer a diferença.

* Talita Meurer é viajante em tempo integral. Em 2019 largou tudo para viajar o mundo com o marido e sua Golden Retriever. É dona do instagram @lilomochileira onde relata o dia a dia da viagem.



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