Ao homenagear o Professor Ezequiel, homenageamos a todos os mestres do estado de Mato Grosso
O sábio professor cuiabano
Dia 15 de outubro legalmente é dia dos professores, mas todos nos que reconhecemos a contribuição que recebemos dos nossos mestres como presente em nosso saber, temos a consciência que todos os dias e todas as horas os professores devem ser homenageados.
E neste dia homenageamos o aquele que foi o mais sábio dos professores cuiabano: Professor Ezequiel Pompéo Ribeiro de Siqueira, que começou os seus estudos primários em escola pública de Cuiabá e com muita dificuldade conseguiu diplomar-se bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio Salesiano São Gonçalo, em 1906, tornou-se professor de escolas públicas, bem como, lecionava em aulas particulares nas casas de famílias mais tradicionais e ilustres de Cuiabá, tendo como alunos figuras ilustres da política mato-grossense como Filinto Müller, João Ponce de Arruda, Fernando Corrêa da Costa e muitos outros. Devoto fervoroso de São Benedito, diziam que ele destinava 50% (cinquenta por cento) de seus proventos mensais a paróquia daquele santo.
Nos anos 60, o professor andava pelas ruas de Cuiabá, perambulando sempre com os seus cachorros “vira latas” que eram os seus verdadeiros amigos e às vezes parava nas lanchonetes e distribuía lanches para os animais, vivendo no mundo dos seus pensamentos e pouco importava com o julgamento das pessoas, pois não se inebriava com o orgulho, por isso não tinha dificuldade de reconhecer os seus erros, e não tinha a necessidade compulsiva de apresentar a sociedade como um homem certo, ele entendia que aquele que recicla o seu orgulho, simplesmente tinha o poder de libertar do jogo de estar sempre certo, por isso transita pelas rua de Cuiabá com muita tranquilidade. Na condição de sábio, nunca engessou sua inteligência com amarras da auto-suficiencia e exercia a inteligência com continuada condição de eterno aprendiz, por isso era considerado estudioso ou autodidata. Poliglota, falava e escrevia 10 (dez) línguas: inglês, francês, alemão, russo, polonês, espanhol, italiano, latim, grego, esperanto, além, do português, dominava a matemática, astrologia, numerologia, física e química, dizem que em sua casa humilde, recebia os estudantes para prepará-los para seguir estudos nas faculdades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Contam que no “Campo de Aviação”, hoje Av. Carmindo de Campos, desceu uma autoridade internacional e comunicaram ao Governador, que esse senhor, falava outro idioma. No desespero de não ter como receber a autoridade internacional, alguém disse: procure o professor Ezequiel e o assessor do governo saiu por ai, a procurar esse grande sábio. Quando o assessor chegou à Rua Candido Mariano, viu um homem com os seus cachorros, e esse homem aproximou do assessor e pergunto: quem você está procurando?
Mas o assessor do governador foi ríspido disse:
- procure outra pessoa para conversar, eu não tenho tempo a perder com um pobre coitado com você e sai da frente.
Diante da demora, o governador mandou um oficial com um Jipinho do exército, sair à procura do professor e disse:
- traga o professor de qualquer maneira e nem que seja preso, faça isso rapidamente.
E quando o assessor retornou, já encontrou o professor sendo intérprete do governador entre as autoridades e ficou a lamentar a oportunidade que perdeu em não ter dado a sua atenção a aquela pessoa tão especial e aquela pessoa que ele desprezou poderia transformar em uma possível promoção de cargo no governo.
E, imediatamente foi pedir perdão ao professor pelo desprezo que ele praticou.
O humilde professor olhou bem nos olhos do vaidoso assessor e respondeu:
- “Eu não tenho esse poder de julgar as pessoas e por isso não tenho o direito de condenar ou perdoar ninguém. O homem mais poderoso do mundo era o mais humilde que andou por este mundo das vaidades, mas para ter as minhas considerações, você terá que pedir perdão ao homem de Nazaré, e depois a todas as pessoas pobres e mal vestidas do mundo, e que não são poucas, pois quando você me agrediu com seu orgulho, agrediu também a todos os humildes do mundo e que esse exercício de humildade possa um dia fazê-lo crescer espiritualmente e talvez quem sabe um dia você possa entender que as pessoas mais importantes são as mais simples”.
Morreu no isolamento social em 25/10/1966, sendo que o seu corpo encontrado após quatro dias da morte, a beira da antiga estrada Cuiabá/Chapada dos Guimarães, e a na sua última homenagem estavam apenas os seus cachorros, que diferentemente da sociedade nunca o abandonou. Foi sepultado no Cemitério da Piedade, no centro de Cuiabá, tendo deixado todos os seus bens patrimoniais para a Irmandade de São Benedito.
Ser professor neste país, é só para aqueles nasceram com o dão do saber e exercita o ensinamento como sacerdócio, vejam que tanto ontem como hoje, os Professores não são reconhecidos como merecem e vão sobrevivendo com baixos salário e na escala das profissões estão nas últimas colocações.
Ao homenagear o Professor Ezequiel, homenageamos a todos os mestres do estado de Mato Grosso.
WILSON CARLOS FUÁ é economista especialista em Administração Financeira e Recursos Humanos.
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