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Provocação e Divagação
Outro dia, em meio a conteúdos dos e-mails, a única certeza que se tinha era mesmo a dúvida sobre a verdade de uma asserção. Verdade que esbarrava na dificuldade de se decidir. Dificuldade, hesitação ou cepticismo? Novamente a incerteza. Esta, porém, não serviu de impedimento para ler a última correspondência, que falava a respeito de uma aliança político-eleitoral entre o governador e o presidente do Parlamento estadual. Os dois “são bastante próximos”, dizia o missivista, o qual reconhecia também que “isso não assegura pacto algum”. Nem mesmo o de cunho pessoal ou familiar. Pois “sempre haverá interesse outro capaz de inviabilizá-lo”.
A esta altura, o leitor já deve estar perguntando a si próprio: “que pacto eleitoral é esse?”. E com razão. Pois ele não tinha o dito e-mail, e mesmo se o tivesse, recusaria a acreditar nas palavras lidas. Mas, no jogo político, o desacreditar pode ser um risco medonho. Daí a relevância do pensar sobre. Ainda que o objeto deste pensar se encontre lá adiante, em 2014. “Ano em que Silval e o Chico Daltro deixariam os atuais cargos que ocupam para disputarem o de Senado e uma das oito vagas da Câmara Federal”, respectivamente. Isso levaria o deputado Riva a chefiar o governo, e, nesta condição, a disputar a reeleição com reais chances de vitória. “Somente assim, o deputado-presidente encurtaria a distância entre ele e a poltrona central do Palácio Paiaguás”. O missivista falava isso sem rodeios, e com certa desenvoltura, uma vez que sabia os escaninhos do poder, além de ser alguém influente na administração pública regional. Desta posição, no entanto, não levou em consideração um detalhe importante: cada biênio troca-se a chefia do Legislativo. Assim, nos últimos dois desta legislatura, o presidente deverá ser outro deputado. Fala-se muito na vitória antecipada do deputado Sérgio Ricardo. Seria, portanto, este parlamentar a assumir o governo, com as renúncias anunciadas pelo dito e-mail, não o então chefe da Assembléia Legislativa. Quebraria, portanto, parte da equação sugerida pelo missivista.
Isso, contudo, não invalida a provocação que chegou a esta coluna. Nem deveria. Pois o espaço onde ocorre o jogo político é todo recheado de equações, as quais devem ser objetos de investigação dos analistas políticos. Tarefa que exige cuidado e até ousadia, sem que para tal seja preciso o andar errante ou o caminhar ao acaso. Embora muitos políticos teimassem em devanear, fantasiar suas peripécias em encontros que não estiveram, ainda que sejam dos partidos em que estão filiados. O que pode servir de pauta para a mídia regional, e, a partir desta, seduzirem parte do eleitorado, o qual – embriagado pelas palavras desconexas desse tipo de políticos – também divagava.
Divagar, entretanto, não é centrar no assunto em questão. Nem mesmo no jogo político. Pois o discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras. Assim, “toda palavra pronunciada no campo político deve ser tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e não diz” – no dizer de Charaudeau.
Nesse sentido, cabe retomar a provocação do e-mail. A aliança entre o governador e o presidente do Legislativo não está de toda descartada. Ao contrário, tem grande possibilidade de ser viabilizada. Sobretudo quando se percebe que o PMDB não quer deixar o poder regional, e para tal deve continuar alinhado com uma porção de partidos, entre os quais o PSD.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
A esta altura, o leitor já deve estar perguntando a si próprio: “que pacto eleitoral é esse?”. E com razão. Pois ele não tinha o dito e-mail, e mesmo se o tivesse, recusaria a acreditar nas palavras lidas. Mas, no jogo político, o desacreditar pode ser um risco medonho. Daí a relevância do pensar sobre. Ainda que o objeto deste pensar se encontre lá adiante, em 2014. “Ano em que Silval e o Chico Daltro deixariam os atuais cargos que ocupam para disputarem o de Senado e uma das oito vagas da Câmara Federal”, respectivamente. Isso levaria o deputado Riva a chefiar o governo, e, nesta condição, a disputar a reeleição com reais chances de vitória. “Somente assim, o deputado-presidente encurtaria a distância entre ele e a poltrona central do Palácio Paiaguás”. O missivista falava isso sem rodeios, e com certa desenvoltura, uma vez que sabia os escaninhos do poder, além de ser alguém influente na administração pública regional. Desta posição, no entanto, não levou em consideração um detalhe importante: cada biênio troca-se a chefia do Legislativo. Assim, nos últimos dois desta legislatura, o presidente deverá ser outro deputado. Fala-se muito na vitória antecipada do deputado Sérgio Ricardo. Seria, portanto, este parlamentar a assumir o governo, com as renúncias anunciadas pelo dito e-mail, não o então chefe da Assembléia Legislativa. Quebraria, portanto, parte da equação sugerida pelo missivista.
Isso, contudo, não invalida a provocação que chegou a esta coluna. Nem deveria. Pois o espaço onde ocorre o jogo político é todo recheado de equações, as quais devem ser objetos de investigação dos analistas políticos. Tarefa que exige cuidado e até ousadia, sem que para tal seja preciso o andar errante ou o caminhar ao acaso. Embora muitos políticos teimassem em devanear, fantasiar suas peripécias em encontros que não estiveram, ainda que sejam dos partidos em que estão filiados. O que pode servir de pauta para a mídia regional, e, a partir desta, seduzirem parte do eleitorado, o qual – embriagado pelas palavras desconexas desse tipo de políticos – também divagava.
Divagar, entretanto, não é centrar no assunto em questão. Nem mesmo no jogo político. Pois o discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras. Assim, “toda palavra pronunciada no campo político deve ser tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e não diz” – no dizer de Charaudeau.
Nesse sentido, cabe retomar a provocação do e-mail. A aliança entre o governador e o presidente do Legislativo não está de toda descartada. Ao contrário, tem grande possibilidade de ser viabilizada. Sobretudo quando se percebe que o PMDB não quer deixar o poder regional, e para tal deve continuar alinhado com uma porção de partidos, entre os quais o PSD.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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