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Opinião
Segunda - 05 de Dezembro de 2011 às 10:28
Por: Lourembergue Alves

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O retrato do Parlamento revela parte de uma fotografia maior, a da própria sociedade. Por isso, há quem diz, e não sem razão, que o comportamento dos políticos jamais é distinto dos demais brasileiros. Estes, igualmente, se valem do “jeitinho”, do “furar a fila” e do “corpo mole” com os negócios públicos. A coisa pública quase sempre substituída pelos interesses particulares. Portanto, não se deve estranhar quando deputados agem como “caititus”, parafraseando aqui certo líder partidário, e dessa maneira prosseguem em seus mandatos, com vistas a se manterem permanentemente no poder. Daí o uso do mensalão, de merendas, de aditivos ou de quaisquer outros mecanismos para alcançarem tal intento. Inclusive a compra de votos. Pagos também com as chamadas emendas aprovadas no orçamento, cuja liberação depende do voto de cada um deles nos projetos do governo, ou em ações favoráveis ao Executivo, como se vê com relação acusação de fraude na troca do modal BRT pelo VLT. 
 
Tem-se, então, uma teia de compadrinhos, e, em torno da qual, se estende toda uma relação de clientelismo. É nesta relação que aparecem as imagens de empresários, lobistas, chefetes e cabos eleitorais fantasiados de assessores. Todos – uns mais, outros menos – de posse de uma espécie de senha de acesso às benesses da máquina do Estado, quase nunca regulados diretamente pela ordem jurídica e pelos valores de mercado.

A esperteza, aqui, passa a ter sentido diverso. Bem além de um simples vício privado. Vício que pode ser traduzido em benefício público. Veja, por exemplo, o asfaltamento de determinada estrada, que leva a propriedade de determinado figurão da política e/ou da economia, pode igualmente beneficiar uma porção de gente. Mandeville, aliás, já falava sobre isso no primeiro quartel do século XVIII.
 Situação que até impulsiona o jogo político. Seria ingenuidade ignorar esse feito. Mas, igualmente, seria equivoco não perceber que ela em nada contribui para a política.    
 
A política é a única atividade humana que se dá em um espaço bem específico e definido. Isso desde a sua invenção pelos antigos gregos. Assim, por mais que se queira ou tente privatizá-la, o lugar dela será unicamente aquele. Até porque a tentativa de mudá-la de espaço corre-se o risco de desaparecer com ela. Pois o seu surgimento só ocorreu quando o poder - que era privado, próprio do rei - foi deslocado para a ágora –  espaço público ou o da palavra e da ação. A partir daí se “inventou” a política - assentada sob regras e normas bem claras – e permanece desse modo, oxigenada pela liberdade. Tanto que a falta ou diminuição do que se entende por liberdade, novamente se tem a possibilidade de paralisar com essa atividade essencialmente humana. Sobretudo porque não se sabe, nem conhecimento de se ter visto pardais deliberando. Deliberar é próprio do homem. Daí a importância do diálogo, da negociação e do se chegar a um acordo com outrem, sem que essa concordância em potencial se torne fruto de negociatas, de troca-trocas. 
 
Quadro revelador. Revela a quanta anda o fazer da política. Tudo porque a imensa maioria da população se abdicou do seu papel de participante ativo dos negócios públicos. Recusa que traz prejuízos enormes. A ponto, por exemplo, de se ter a necessidade da sociedade substituída pela vontade particular ou grupal. Isso quase sempre acontece. O que denuncia o comportamento rotineiro de quem foi eleito para defender a população. 

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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