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Opinião
Quarta - 15 de Julho de 2020 às 06:15
Por: Rosana Leite de Barros

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O isolamento social fez com que pessoas que convivem em um mesmo ambiente doméstico e familiar passem mais tempo juntos e juntas. E estar em ambiente aconchegante, com pessoas que foram escolhidas para estar ao lado, não seria bom? Deveria ser. Todavia, para algumas mulheres se tornou verdadeira tortura.

É muito curioso, e basta remontar aos contos infantis de príncipes e princesas, para esclarecer as mentes. O gênero feminino ainda sonha! E em razão de tanto sonhar, encontra pesadelos terríveis durante a existência.

Ao lembrar do famoso conto “A Bela e a Fera”, não é difícil rememorar que a Fera foi ruim o tempo todo, e, apenas ao final, após muito fazer a Bela sofrer, se torna um príncipe. Já a Bela Adormecida, é acordada pelo beijo de um homem, sendo por ele salva, assim como a Branca de Neve. Cinderela se livra das garras da madrasta com um homem, o príncipe, que lhe calça o sapatinho de cristal. As comédias românticas, em regra, apresentam inúmeros sofrimentos, para, somente após, viverem felizes para sempre.

Ininterruptamente é falado que não se deve viver de aparências, podendo acarretar a destruição de esperanças, e de pessoas. Príncipes e princesas são somente os de narrativas ingênuas. A bem da verdade, essas historietas que em nada contribuíram ou contribuem para a formação pessoal, deveriam ser esquecidas.

Infelizmente, a pandemia tem mostrado mais um lado indigesto, desde o começo. O aumento da violência doméstica e familiar não se deve à quarentena. Pode até ter adiantado ou potencializado ações violentas, mas, não é motivo. Agressores iriam agir a qualquer momento. Escolhem, até pela covardia, o pior instante.

E elas estão a revelar. Dias atrás, uma digital “influencer”, conhecida por seus projetos de emagrecimento e falas sobre relacionamentos, anunciou aos seguidores e seguidoras o fim do casamento de três anos com um famoso ator conhecido na mídia. Foi questão de tempo para que a blogueira fitness começasse a relatar os abusos que sofreu em sua relação.

Ela conta que tal homem a traiu por diversas vezes, aproximadamente 20 casos, dos quais tomou conhecimento. Além disso, a coach, durante o relacionamento, se sentia extremamente abandonada pelo, agora, ex-marido. Por possuírem, como fruto da união, uma filha, ele não a auxiliava com os diversos cuidados que uma criança precisa, tendo pedido para não contratar pessoas para a ajudar. A mulher costumava atender a tudo que o homem a pedia, com a espera de que o “sapo” se tornasse...

É muito importante repassar algumas falas dessa vítima, para que outras não terminem em cilada igual. Disse que é difícil acreditar que um homem com carinha de príncipe, poderia fazer com ela o que esse agressor fez. De outro turno, menciona que esperava algumas situações acontecerem, para ver uma provável mudança no companheiro, por exemplo, o nascimento da filha, a operação que ela se submeteu etc. Por último, o algoz afirmou em uma “live” que se fosse mulher, jamais o namoraria.

As agressões e maus tratos a mulheres são culturais, fazendo parte da historicidade a confirmar o machismo recorrente. É latente a tentativa das vítimas em mudar as atitudes agressivas dos companheiros. Algumas até imaginam que da noite para o dia, como no “Estalo de Vieira”, se tornarão pessoas diferenciadas. Gentlemans???

Idealizar pessoas e situações é pedir para que o sofrimento apareça em algum momento. Os exemplos estão escancarados. Contudo, exigir companheirismo e respeito, é o mínimo....

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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