As previsões de Cassandra Na mitologia grega, Cassandra se apresenta primeiro como uma moça muito bonita
Na mitologia grega, Cassandra se apresenta primeiro como uma moça muito bonita, “semelhante Afrodite de ouro”, escreve Homero. Apaixonando-se por ela, Apolo lhe confere do dom da profecia em troca dos seus folguedo amorosos.
- Cassandra aceita o dom mas recusa o Deus, que, furioso, cospe na sua boca, o que fará com que nunca mais alguém a compreenda ou acredite nela. Assim ela prevê, sucessivamente, o rapto de Helena por Páris, depois o estouro da Guerra de Tróia e adverte seus compatriotas troianos do subterfúgio grego (o famoso “Cavalo de Tróia”) que lhes permitiu conquistar a cidade. Terminará assassinada por Clitemnestra, não sem antes ter previsto seu assassínio, bem como o de Agamêmnon que se recusara a acreditar nela.
- Em suma, Cassandra oferecia o exemplo de previsões pessimistas constantemente realizadas…” (pag. nº 45/46 do livro Submissão de Michel Houellebecq – Editora Lafaguara ed. 2015) -.
Em meio a esta pandemia o meu humor continua cada vez pior, pois toda vez que ligo a televisão eu fico mais enfurecido. As nossas estatísticas continuam a retratar e a piorar a situação em nosso País de “meia boca” que tenta resolver tudo de improviso e quando não dá certo acha-se um conveniente culpado.
Vários amigos e conhecidos meus já perderam prematuramente a vida e os indicativos de mortes diárias são sintomas gravíssimos de que a situação vai piorar, pois vai-se interromper o isolamento quando a doença está estabilizada num patamar altíssimo.
E não precisava ir ao oráculo e ouvir Cassandra para prevê tudo que aconteceu e nem do que virá. Bastava saber que aqui a pandemia chegou por último e que as nossas autoridades foram envolvidos na fogueira das vaidades e por isto não foi feito o suficiente para estarmos amargando os perversos índices que teimam em não nos abandonar. Reitero em defender que tais pessoas devem responder pela negligência e pela omissão, pois não existe remissão para a morte.
Acho que ando falando sozinho e que o aqui relatado é fruto dos meus insistentes delírios. Afinal, longe de me comparar com Cassandra, mas ela era tida como louca e ninguém se deu ao trabalho de ouvi-la.
Renato Gomes Nery é advogado.
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