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Opinião
Terça - 18 de Agosto de 2020 às 15:19
Por: Gonçalo de Barros Neto

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A partir da revolução Francesa e Americana, com o início do que se chamou modernidade, a preocupação de todos, inclusive quanto ao projeto científico, esteve profundamente ligada à ‘evitabilidade’ da morte.

Paralelamente às implicações relacionadas com essa inevitabilidade, o humanismo trouxe o homem para o centro das preocupações, fazendo com que a figura de Deus e as religiões ficassem em segundo plano.

A ideia central era construir um ‘paraíso’ para melhor se viver, onde as pessoas se compreendessem mais, destacando-se um lugar todo especial à tolerância e amizade entre todos e entre todos os povos.

Posteriormente, as concepções da modernidade passam a perder força, especialmente as relacionadas com os direitos humanos, já que o holocausto e demais ditaduras, somados a outros acontecimentos, vieram demonstrar o lado mais cruel da humanidade e a sua relativa derrota frente às abstrações relacionadas aos ideais de justiça, igualdade e fraternidade.

Pois bem, penso que o COVID 19 veio fechar, definitivamente, esse ciclo. O fez descer ladeira a baixo, trazendo para o centro do debate justamente aquela que se queria evitar de até comentar, a morte. A realidade atual passou a conviver diariamente com a morte numa pós-modernidade que a faz objeto constante de reflexão e, por via transversa, de lembrança do sagrado, do divino, da origem de tudo, das religiões e de Deus.

Essa pandemia não esta aperfeiçoando somente as plataformas digitais, como Zoom, Team e Webex Meetings, por exemplo, mas formas de convivência, vivência e dependência, além de formatar uma nova noção de liberdade.

O estar sozinho poderá não ser o mesmo de estar fisicamente sozinho. O estar sozinho abarca a solidão pela abstinência de estar conectado. E assim, o estar acompanhado não significa estar com alguém fisicamente, mas com alguém numa plataforma digital, num grupo ou numa rede social.

Os ‘idiotas’ retratados por Umberto Eco vieram pra ficar. Nunca mais serão silenciados. A nova ‘ordem’ de tolerância passou a incluir a negação do próprio conhecimento em benefício da obrigatoriedade de ‘ciência’ do patamar cultural dos outros. De ciência e aceitação, como se houvesse uma igualdade que não se resumisse ao pensamento, direito, à economia ou à cidadania, mas a tudo, inclusive ao saber.

Também, e no que parece paradoxal, a religião voltou à ordem do dia. A tentativa de entender as mudanças da era pós-moderna e a derrocada do projeto de construção de um mundo engendrado num paraíso, ideia central na vida moderna, ficou à mercê da morte: nela, céu ou inferno, retiro espiritual desenvolvido ou não, e assim por diante, será o destino de quem se dobrou aos ensinamentos de entes metafísicos, ou não.

No mesmo sentido, se terá mudança profunda do alcance e densidade da expressão ‘direitos humanos’. Não se iluda e não se iludir será mudado para um não perturbe, se quiser parecer tolerante e civilizado.

É por aí...

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia (UFMT), da Academia Mato-Grossense de Magistrados e articulista em A Gazeta.



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