O real e o sonhado A Filosofia tem uma fórmula antiga para a percepção da felicidade
A Filosofia tem uma fórmula antiga para a percepção da felicidade como sendo igual à ‘realidade menos expectativa’. Como entes essencialmente voltados para a busca de felicidade, dosar a expectativa parece ser a fórmula em alcança-la.
Mas a felicidade e o universo circundante, material, têm na representação numérica sua finitude e sua alegoria. Com Pitágoras se pode afirmar que o número um, a unidade, é o princípio de todas as coisas. Na parábola bíblica, temos que ‘no princípio era o número’.
Em interessante estudo, Herculano Pires se refere ao número um como a unidade e ao número dez, a perfeição.
Continua o filósofo existencialista, o número um é ímpar, mas tem em si mesmo o par. É o par-ímpar que encerra em si os contrários, mas não em contradição e sim em harmonia.
O primeiro e mais leve movimento produz o número dois, surgindo a linha. Formando o par, temos o princípio da sabedoria. Acrescentando mais um número, nasce o ‘três’, formando o triângulo, a figura perfeita, tendo um começo, um meio e um fim. Segue o quadrado ao acrescentarmos mais um número, e assim por diante formando as figuras correspondentes com a consequente representatividade da alma (4), luz e união dos sexos (5), dos corpos vivos (6), razão (7), amizade (8), medicina (9).
A Filosofia tem uma fórmula antiga para a percepção da felicidade
Finda as unidades, temos a década, o número do universo, que define e determina a tudo, plasmando a existência.
Da unidade até a perfeição, desse conjunto numérico e de figuras geométricas, a felicidade se consolida. Portanto, a alegria que se tem numa amizade (8) ou mesmo na cura (9), ou, ainda, na constituição familiar (5), de forma isolada, nos dá a sensação de prazer, e, em sendo prazer, é efêmero.
A felicidade é algo bem mais elevado e complexo. Se me cerco de amigos sinceros, mas não tenho saúde, não a alcanço plenamente. Assim o será se tenho razão (7), mas faltar-me sabedoria (2). É do conjunto que se cuida, sem o qual vegeto e não sou, em essência, pleno.
No dosar a vontade, aproximando expectativa e realidade, sou decimal, e determino a própria felicidade. Por outro norte, ao acrescentar números, criando tantas figuras quantas a imaginação alcançar, atraso o processo de busca, que não se findará nunca, posto infinito.
O conceito, por exemplo, é libertador, com ele me afasto do objeto investigado, arquivando-o como conteúdo científico. Virou consciência. Se se considerar como possível um caminho sem destino, da origem só sobrará inquietação e vontade, menos felicidade.
Como ‘feliz cidade’ é unidade e complexidade, com suas paixões, ideologias, criminalidades, religiosidades, vizinhanças, pessoas boas e não tão boas, de um a dez, ser no todo e o todo no um, recipiente que se contenta com as bordas, de egoísmo sufocado, a liberdade não transborda.
Enfim, limitar as expectativas frente à realidade pode ser a maior autoajuda a emprestar caminho a quem busca felicidade. É um problema mais de consciência e treino que de acontecimentos e circunstâncias.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem graduação em Filosofia, magistrado.
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