Parados no tempo
Os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 2011, divulgados pela ONU, mostram que o Brasil está parado no item mais importante para a sua população: a qualidade de vida. Os números escancaram que os oito anos do governo Lula foram perdidos na batalha contra a imensa desigualdade de renda, o baixo nível de educação e o pífio desempenho na saúde. A estagnação destes setores dá a exata medida de que a somatória do que foi feito, nos últimos anos, não conseguiu verdadeiramente criar condições para se viver melhor.
No relatório do Desenvolvimento Humano, o Brasil aparece na 84ª posição, entre 187 países avaliados, e subiu apenas uma colocação em relação ao ano passado. Ficamos muito atrás do Chile, em 44º lugar, e da Argentina, em 45º. Pior: com um índice de 0,715 (em uma escala que vai de 0 a 1), estamos abaixo da média da América do Sul e do Caribe, de 0,731. Também não conseguimos atingir os níveis que países como Noruega, EUA e Japão possuíam 40 anos atrás.
A divulgação do índice das Nações Unidas confirma que a educação é a nossa maior vergonha. O número médio de anos de estudos do brasileiro ficou estacionado em 7,2 anos, ou seja, menos que o período de ensino fundamental completo. Estamos no mesmo nível do Zimbábue, país que ocupou o último lugar em desenvolvimento humano no mundo, em 2010.
Neste item educação, entre os 187 países que compõem o ranking, superamos apenas 74. No atual ritmo de evolução, o Brasil precisará de 31 anos, uma geração inteira, para alcançar as condições educacionais da Noruega, onde se estuda em média durante 12,6 anos.
E não é só em tempo médio de estudos que tiramos nota vermelha. Em pesquisa, de 2007, sobre qualidade de ensino, feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ficamos muito mal. O levantamento põe os alunos brasileiros entre os piores em conhecimentos de matemática, ciências e capacidade de leitura, entre 57 países analisados.
Já em relação à desigualdade de renda, outro quesito levado em conta no IDH, o índice brasileiro caiu para 0,519, fazendo com que perdêssemos 13 posições. Ocupamos agora o 97ª lugar na classificação geral da ONU. Só nove países são mais desiguais que o Brasil. É uma enorme contradição, para quem ostenta ser a 8ª economia do mundo.
Na saúde, a expectativa de vida subiu para 73,5 anos, mas bem abaixo dos 79,1 anos do Chile. Poderíamos ter avançado mais neste indicador, caso não existissem ainda no país 24 milhões de domicílios sem acesso à rede de esgoto.
Por outro lado, as despesas com pessoal no Governo Federal aumentaram R$ 52 bilhões acima da inflação, no segundo mandato de Lula. Pior é o dinheiro perdido na corrupção. São R$ 82 bilhões por ano — ou 2,3% do PIB, revela a revista Veja do mês passado. Estamos entre os países mais corruptos. De acordo com a Transparência Internacional, na comparação com outras 178 nações, o Brasil figura num deprimente 68º lugar, no ranking do combate à corrupção. Se tivéssemos os mesmos índices da Dinamarca, que encabeça a lista como o menos corrupto, a renda per capita brasileira seria 70% maior.
Desse modo, com tantos desvios e mau emprego do dinheiro público, o país não poderia ter desempenho diferente no IDH, o que significa quase uma década perdida na busca de melhor qualidade de vida para a população brasileira.
Antonio Carlos Mendes Thame é professor (licenciado) do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e Deputado Federal (PSDB/SP). Foi Prefeito de Piracicaba e Secretário Estadual de Recursos Hídricos. É presidente do PSDB Piracicaba.
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