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Opinião
Terça - 15 de Setembro de 2020 às 10:51
Por: Júlio Campos

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Nunca imaginei ver, sentir e sofrer uma tragédia cujas piores consequências virão num futuro não muito distante. E são os nossos filhos, os nossos netos e as gerações vindouras que pagarão o preço altíssimo da tragédia que se abate por sobre uma das maravilhas na natureza.

O Pantanal e a Amazônia são bens maravilhosos do Brasil e de seu povo; são inalienáveis e inegociáveis; constituem uma riqueza incalculável e, também, o grande pulmão da humanidade.

Na Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988, tive a oportunidade histórica e a honra de representar o povo mato-grossense. Priorizei, entre tantos temas, o do meio ambiente, lutando pela proteção de nossos biomas, pela preservação de nossas fauna e flora, antevendo a importância que tal questão já adquiria na vida dos povos e na própria preservação da existência humana, animal e mineral.

Sendo um liberal convicto, democrata e centrista, não tive preconceitos em aliar-me aos parlamentares de esquerda que melhor se esforçavam no debate acerca do meio ambiente. Foi com os tucanos Fábio Feldman e Dirce Tutu Quadros, e com o petista Eduardo Jorge, que integrei os célebres "Quatro Mosqueteiros", apresentando e aprovando propostas constitucionais de caráter ambientalista e preservacionista. A imprensa percebeu nosso esforço e nos deu ampla cobertura. O velho e saudoso Ulysses Guimarães nos recebia com o sorriso aberto e declarada simpatia por nossas posturas.

Como governador de Mato Grosso comandei uma autêntica revolução com quase 2.200 km de estradas asfaltadas, milhares de obras de infraestrutura como pontes, terminais rodoviários e aeroportos, além das escolas, hospitais e obras do interesse de cada um dos Municípios. Combati o bom combate e a história e meu povo registram a luta vitoriosa.

Como Constituinte batalhei pelo futuro. Hoje, passadas três décadas, registramos o acerto daquela preocupação e das iniciativas constitucionais que aprovamos em defesa do Pantanal, da Mata Atlântica, do Cerrado, da Amazônia, enfim, dos biomas que fazem do Brasil o mais deslumbrante ecossistema dos cinco continentes.

O que se passa nos dias atuais, com a ausência de uma política competente, definida e efetiva, é simplesmente desastroso.

Ver as cidades de várias regiões, especialmente do Centro-Oeste, com destaque para as do nosso amado Mato Grosso, envoltas na fumaça de incêndios que poderiam ser evitados ou combatidos com mais eficiência, é como vislumbrar as brumas de um futuro com a natureza em colapso. Que herança brutal para as gerações futuras!

Saúdo os bombeiros, os militares, os ambientalistas, os produtores rurais que estão combatendo as chamas da destruição com os parcos recursos de que dispõe. Reconheço que o estado brasileiro está desequipado para a tarefa. E isso deve ser sanado ou se transformará em crime de responsabilidade. Crime, esse é o nome!

Não desisto. Não desistamos. Defender e lutar pelo meio ambiente, salvar nossas fauna e flora, explorar conscientemente a terra, são deveres patrióticos. Mais que isso: é uma imposição da Mãe Natureza, uma exigência do presente dramático e esperança para um futuro muito melhor.

Júlio Campos é engenheiro agrônomo, foi prefeito de Várzea Grande, deputado federal, governador do Mato Grosso, deputado à Assembleia Nacional Constituinte e Senador da República.



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