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Opinião
Quarta - 30 de Setembro de 2020 às 10:19
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Com a historicidade patriarcal, que faz das mulheres as grandes vítimas de sexismo, as palavras são impregnadas de situações e formatos de agir. Quando menos se espera, ainda que por brincadeira, as sentenças chegam naturalmente.

O fato de muitas delas serem “preparadas” desde a infância para o casamento, do ambiente doméstico e familiar ser o “local” sempre mais apropriado para as mulheres, gerou e gera prejuízos visíveis.

Nesse “preparo” para o matrimônio, os “bons modos” deveriam ser rigorosamente ensinados, porquanto, passavam a ser “serviçais” de seus maridos ou companheiros, e jamais os deixar “envergonhados” ou “chateados” como a maneira de agir. Na ancestralidade, os homens podiam estudar a filosofia, por exemplo, enquanto esse direito a elas era vedado. Sim, a eles poderia ser proporcionado conhecimento. E a elas, se fosse dada a oportunidade, o que fariam com o estudo? Que perigo, não?

A equidade perseguida pelas mulheres as faz atuar em todas as frentes. De fato, quebrar paradigmas do dia para a noite é desafio. Todavia, não compactuar e nem aceitar o que outrora se prefazia como habitual não é tarefa das mais fáceis.

Apenas para elucidar o que se busca versus o que se tem, mais ou menos como a expectativa e a realidade, frases que merecem ser esquecidas, mas, apenas a título de esclarecimento, devem ser ilustradas.

“Você é mocinha, aprende a sentar.” “Você é uma princesa.” “Fecha as pernas, você é menina.” “Já sabe cozinhar, já pode casar.” Está brava por estar de TPM?” “Vou trocar uma de 40 por duas de 20.” “Pra ficar bonita, mulher tem que sofrer.” “Mulher de bigode, nem o homem pode.” “Mulher no volante, perigo constante.” “Mulher não gosta de homem; gosta de dinheiro.” “Uma mulher só é completa e só conhece o amor quando é mãe.” “Tá magra demais.’ “Tá gorda demais.” “É muito bonita para ser inteligente.” “Mulher não pode falar palavrão, senão fica com a boca suja.” “Mulher age como emoção, e não com a razão.” “Mulher não sabe jogar futebol”. “Muito fresca, cheia de mimimi.” “Mulher e carro, quanto menos rodados, melhor.” “Não existe mulher feia, mas, sim, mulher pobre.”

A equidade perseguida pelas mulheres as faz atuar em todas as frentes

Fica custoso se libertar, quando vivemos em um mundo onde essas frases são ditas, reditas, misturadas e largadas nelas. Nenhuma das frases acima e outras tantas, criadas e “jogadas” nas mulheres, podem servir de “muletas” para quem quer nelas se escorar.

Saber que não é galhofa, não se constitui em qualquer forma de bricadeira e sorrisinho de canto de boca, é apenas o começo. É necessário, todas as vezes, em todas as circunstâncias, se valer firmemente contra essas citações, que em nada contribuem na construção dos direitos humanos das mulheres.

A educação das filhas e filhos sem a utilização de linguagens que venham a lhes causar preconceito, discriminação e dor, é o esperado. Mostrar a diferença apenas biológica entre os gêneros, com a compreensão de que a competência existe indistintamente é construir seres humanos, na acepção da palavra.

Saber que as mulheres possuem sentimentos, não são malucas, não vivem de frescura, que não precisam ter filhos ou filhas para serem completas, é um passo inicial. Entender que elas não são obrigadas a nada, que podem ter o cabelo e corpo como bem desejarem, é o correto. Elas podem gostar ou não de cozinhar, jogar futebol ou de artes marciais.

Não interessa se usam vestido longo, médio ou curto, não merecem passar por assédios. Que podem ou não adotar o patronímico do marido, sem qualquer obrigação. Que podem sim alterar o humor quando realmente assim estiverem psicologicamente, sem qualquer culpabilização em estar fazendo jus às malfadadas frases de efeito. Não precisam de sofrimento para ficarem bonitas. O principal cuidado consigo é com a saúde.

Mulheres com opinião própria não são chatas, nervosas, mal-amadas, maldosas, teimosas ou difíceis. Possuem, sim, caráter e personalidade para exarar o que pensam.

As mulheres possuem limites que precisam ser respeitados. Nada, absolutamente nada, pode as definir e as tachar de problemáticas, difíceis, inacessíveis, e por aí afora.

Livros, sapatos, estudo, maquiagem, corpo, casa, rua, forma de se portar? ‘’Lugar florido’’ não nos representa. A opção é sua, e, a ninguém é dado opinar...

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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