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Opinião
Quarta - 07 de Outubro de 2020 às 10:02
Por: Maria Alaíde Bruno Teixeira

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A pandemia causada pelo novo coronavírus, que gerou grave crise econômica e sanitária, além de promover milhões de mortes, também tem seu impacto nas relações familiares, nas quais se inserem as novas modalidades de trabalho. Em muitos casos, o tão decantado Lar doce Lar, se transformou num campo de batalhas.

Pesquisas realizadas por diversas instituições sobre os motivos que geram conflitos entre os casais durante a quarentena, estão o uso excessivo do aparelho celular, a divisão das tarefas domésticas e o excesso de críticas, que se revezam entre os três primeiros motivos.

Considero que os conflitos decorrentes do uso ardente de celular é um motivo que antecede aos tempos de pandemia, embora tenham sido potencializados por ela. Creio que todos nós conhecemos um caso de conflito entre casais em que o uso do aparelho estivesse presente. Pode-se dizer que há algum tempo, este fenômeno se faz presente na realidade conjugal.

A divisão de tarefas nos cuidados com a casa, para além de questões culturais, tem relação direta com a juntura ocorrida entre a rotina do lar, do trabalho e das atividades escolares. Indubitavelmente, essa nova realidade exige mudanças para as quais a maioria das famílias não estava preparada para fazê-las. Demanda sacrifício e comprometimento de todos. Mas, um pouco de persistência, organização e negociações facilita o processo.

Por sua vez, o crescimento de críticas suscita, algumas reflexões e nos faz crer que a pandemia é uma grande oportunidade para crescer e aprendermos a ser melhores, mais humanos e, até mesmo mais felizes, à medida que aprendemos a construir relações mais saudáveis.

A pandemia, per si, é um fator desencadeador de estresse. A perda de parentes e amigos, bem como o medo da contaminação, aumentam o estresse e a ansiedade, podendo causar insônia, distúrbios alimentares, complicações clínicas e até mesmo quadros depressivos. O confinamento agravou esse quadro de estresse, à medida que aumentou o tempo de convivência, exigindo adaptações e potencializando os riscos de conflitos.

O excesso de crítica é como faíscas de fogo que geram grandes incêndios e destroem a natureza. De forma similar as críticas destroem relacionamentos. Como a consciência ecológica previne as grandes tragédias promovidas pelo fogo, a consciência de si e do outro, ajudam a construir relações saudáveis.

Mas de onde vem as críticas? Como entender essa capacidade de corromper relações?


Na realidade, as críticas podem estar relacionadas a dificuldade de lidar com as diferenças do outro. Muitas vezes dizem respeito aquilo que incomoda o parceiro, mas sempre foi tolerado, dada a pouca convivência e os diversos subterfúgios utilizados para suportar tais diferenças. Aquele jogo de futebol, aquela cervejinha com os amigos, os passeios no shopping com as amigas, os cafés, as compras. Enfim... uma infinidade de mecanismos criados ao longo do tempo. Aqui você pode perguntar: não teríamos o direito ao lazer e convivência social? É claro que temos. A questão é não fazer do lazer uma fuga eterna.

Com o isolamento social, as fugas tornaram-se praticamente impossíveis. Assim, a pandemia escancara as diferenças e a intolerância. Por sua vez, lidar com o outro, com as diferenças, implica necessariamente, lidar com nossas próprias questões. Nesse cenário é mais fácil olhar para os “defeitos” do outro e expor os incômodos guardados.

Por outro lado, as críticas podem representar a utilização de um mecanismo de defesa psicológico chamado projeção, por meio do qual a pessoa transfere à outra comportamentos e pensamentos inaceitáveis ou indesejados em si próprio. Um exemplo comum da projeção é culpar outra pessoa pelos nossos fracassos, evitando assim, assumir de forma consciente, a falta cometida. A relação conjugal é um campo fértil para a utilização desse mecanismo. Sem perceber o parceiro se torna alvo.

Assim, volto a afirmar que a pandemia é uma oportunidade de aprender construir relações saudáveis. Na realidade, não existe uma fórmula para fazê-lo, mas seguem algumas dicas:

  • . Converse mais com você mesmo, no sentido de descobrir o que te dá prazer e o que não te faz sentir bem com você e como o outro. Conecte com seus sentimentos;
  • . Parta do princípio de que o outro é diferente de você. O casal tem muitas coisas em comum, mas tem também as diferenças. Isto acontece em qualquer relação, haja vista que cada pessoa é única. O importante é não querer impor seu jeito de ser e pensar ao outro.
  • . Seja solidário, ninguém é auto suficiente que não dependa de outra pessoa, seja solícito e mais aberto ao outro. Olhe para o parceiro e busque perceber se ele precisa de ajuda, como está, o que está sentido. Acolha o outro. Freud já dizia que somos eternos solitários, solidários.
  • . Por mais que pareça difícil, promova o diálogo. Somos construídos a partir e com o outro. A comunicação é fundamental nesse processo. Compartilhe suas angústias e sentimentos.
  • . Escolha o momento certo para conversar. Os ânimos acirrados dificultam a capacidade de ouvir. Use sempre a primeira pessoa: eu sinto, eu penso, eu percebo...
  • . Coloque-se no lugar do outro. Se você está cansado e se sentindo frustrado pelos conflitos, saiba que o outro também está. Estão no mesmo barco, quer dizer, na mesma relação.
  • . Por fim, desafie-se. Você é também é responsável pela qualidade dos seus relacionamentos. Afinal, você quer ou não, melhorá-los? Isto é uma questão de ESCOLHA.

Escolha se relacionar melhor, viver melhor!


*Maria Alaíde Bruno Teixeira é cuiabana, Especialista em Direito do Trabalho e em Gestão de Negócios, formada em Psicologia, Direito e Serviço Social e autora da obra Saúde do Trabalhador e a Reforma Trabalhista.



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