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Opinião
Terça - 03 de Novembro de 2020 às 14:49
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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O mês se inicia com comemoração para os direitos das mulheres. No dia 03 de novembro de 1930, foi instituído o voto feminino no Brasil. Todavia, foi no ano de 1932, com a entrada em vigor do Código Eleitoral Brasileiro, que houve a ampliação desse direito.

É sabido que apenas através do movimento de mulheres foi possível o alcance de tantos direitos. O direito de votar e serem votadas foi um dos primeiros.

O ambiente político é enxergado como bastante masculinizado. Decisões de espaços de poder, na maioria das vezes, ficam para eles. Contudo, o que vem ocorrendo, já que as mulheres não se encontram proporcionalmente na política, é a aprovação de leis que não atendem aos reclamos femininos.

Não há como sentir e enxergar todas as sensações necessárias se elas não estiverem caminhando em conjunto e com a mesma magnitude.

As mulheres trazem consigo situações que dizem respeito a elas próprias

As mulheres trazem consigo situações que dizem respeito a elas próprias. O uso da fala pode e deve ser de qualquer um ou uma. Todavia, o protagonismo é delas.

Com o movimento da Primeira Onda Feminista no Brasil, no início do século XX, as mulheres começavam a mostrar o desejo por estar em todos os lugares. Galgar espaços foi, e ainda é, a meta. E elas iniciaram os movimentos ao sentir insatisfação com a própria cidadania. Eram consideradas cidadãs de segunda categoria, mesmo se encontrando ao lado de seus companheiros, pais, irmãos e amigos, com a contribuição fraterna e “pitacos” importantes.

Ainda que elas mostrassem inteligência e capacidade, tinham que manter “mitigadas” as vontades. A representatividade delas deveria estar cercada de interesses masculinos.

Em Mato Grosso a professora Bernardina Maria Elvira Rich, junto com outras sufragistas brasileiras, foi uma das responsáveis pela instituição e conquista do voto feminino no país.

Bernardina Rich, mulher negra, no ano da abolição da escravatura (1888) já rogava por uma vaga de professora na rede de ensino, porquanto, havia concluído o curso de normalista aos 16 anos. Sofreu com o racismo ao disputar vaga para lecionar, já que outras candidatas brancas também concorriam para o mesmo mister.

Professora Bernardina, sem dúvida, era diferenciada para a época de sua existência. Fazia da sua moradia um espaço cultural, onde se realizavam saraus dançantes e literários, com piano, violão e violino. Tinha, também, na filantropia uma de suas atividades certas, realizando higienização, alimentando e fazendo curativos em pessoas com uma das doenças de grande contágio à época, a hanseníase.

Em 1916, em conjunto com demais mulheres simpatizantes do feminismo, a professora Bernardina colaborou e fez parte da criação do Grêmio Literário “Júlia Lopes de Almeida”, sendo o primeiro que continha a emancipação das mulheres mato-grossenses como viés. Em contato com Bertha Lutz, a professora ajudou na instalação em Cuiabá de uma filial da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em prol das mulheres, conquistando o direito ao voto.

É de se ressaltar que a história dessa brilhante professora tem sido muito bem lembrada e contada pela jornalista, escritora e imortal da Academia Mato-grossense de Letras, Neila Maria de Souza Barreto (https://www.aimprensadecuiaba.com.br/opiniao/bernardina-maria-elvira-rich/753).

A professora Bernardina Rich merece inúmeras homenagens. Como educadora e que lutou bravamente pela educação, após a morte emprestou o seu nome a uma escola estadual por muitos anos. Todavia, como a história das mulheres nem sempre é valorizada, o seu patronímico foi retirado da escola.

Devolver o nome dessa mulher, Bernardina Maria Elvira Rich, que tanto representa as demais, a uma escola da rede pública é o mínimo que se espera da historicidade de Mato Grosso.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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