Vareio Bolsonaro e Lula estão lambendo as feridas, mas não estão vencidos
A palavra “vareio” pode ter duas linhas de significados. A primeira, talvez a mais conhecida, refere-se a sova ou surra: “o Flamengo deu um vareio no Vasco”.
A outra, remete a delírio, desvario ou alucinação: “teve um vareio, quando perdeu a esposa no acidente”.
Pois vareio – segundo caso – foi o que o Presidente Bolsonaro sofreu, quando foi atacado pelo Adélio Bispo, na campanha eleitoral. Naquele momento era aceitável que atribuísse a uma armação da esquerda, a tentativa de homicídio, mas a tese deveria ter sido abandonada, quando ficou provada a ação solitária do criminoso.
A derrota foi dupla: a extrema-direita que o Presidente representa, só fez um prefeito nas capitais; e o PT - ícone da esquerda – não conseguiu eleger nenhum
Mas o presidente nunca se curou daquele vareio. Ele manifestou-se em muitas outras ocasiões: logo depois do atentado, encucou que as nossas urnas eletrônicas são manipuladas pelos seus inimigos. Mesmo passados mais de dois anos de sua eleição, ele continua afirmando que o processo eleitoral brasileiro é sujeito à fraudes. Ignora que o TSE avaliza, sem ressalvas, nossas eleições e que todos os TREs confirmam a lisura das votações. Não há, até hoje, nenhuma indicação que nos leve a desconfiar das centenas de juízes, desembargadores e ministros que comandam o processo eleitoral eletrônico.
Se não bastassem as infundadas desconfianças de nossas eleições, ele agora, chorando a derrota do Trump, afirma que nos Estados Unidos, o partido Democrata fraudou a votação. Também neste caso, o Presidente Bolsonaro ignora a confirmação dos 50 estados americanos que validaram a vitória do Biden.
Mas o vareio continua perseguindo nosso Presidente. Pra ele o IBGE divulgava dados ruins para prejudica-lo e o INPE mascarava as pesquisas climáticas para colocar a comunidade mundial contra o Brasil. Ainda, detectou uma armação da imprensa brasileira para derrubar seu governo e atacou o Supremo por perseguição.
Quando veio a Covid, o delírio intensificou-se. Agora são os cientistas, o Mandetta, os governadores e os prefeitos que se unem para parar o País, tentando inviabilizar seu governo. Além disso, encasquetou que a cloroquina é muito melhor que a vacina para estancar a pandemia
A China, para completar o desvario, deixa de ser nosso principal parceiro comercial, para transformar-se – na sua percepção variada - em um espiã, que pretende impor-nos sua ideologia. Com essa obsessão, quer inviabilizar a vacina que vem de lá e impedir a chinesa Huawey de participar do leilão da tecnologia 5G. Aliás, o Presidente e seu Ministro da Saúde são os maiores torcedores contra as vacinas, principalmente a Coronavac, talvez a mais próxima de nos livrar da doença.
Estes vareios, creio, levaram o Presidente a sofrer o outro tipo vareio nestas eleições. Este sim, no sentido de surra mesmo. Parece que o povo, cansado das variações (alucinações) presidenciais, resolveu não votar em seus indicados para prefeitos e vereadores.
Felizmente a derrota foi dupla: a extrema-direita que o Presidente representa, só fez um prefeito nas capitais; e o PT - ícone da esquerda – não conseguiu eleger nenhum. Isso nos dá a esperança de que o pêndulo político, depois de experimentar os dois extremos, busca equilíbrio em uma posição de centro.
Bolsonaro e Lula estão lambendo as feridas abertas pelo vareio (surra) imposto pelos eleitores, mas não estão vencidos. Muita água correrá debaixo da ponte até 2022.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor.
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