Olhar sobre os pássaros O amanhecer é uma sinfonia. O entardecer também
Este artigo não traz nenhuma relevância para a política e, tampouco, pra economia! Pra vida, quem sabe...
Fala de sentimentos. Imagino que de sentimentos novos nesses tempos pós-pandemia. Recolhi-me na minha propriedade rural que tenho há 32 anos no município de Acorizal.
Logo que surgiu a pandemia Carmem e eu nos mudamos pra lá. Em 23 de março. As chuvas da estação anterior já estavam acabando. As da atual estação ainda não chegaram, apesar de já estarmos no fim de dezembro.
Carmem e eu começamos a perceber muitos pássaros mortos sem razão aparente. Deduzimos que fosse de fome naquela secura braba. Providenciamos água e numa laje de concreto ao ar livre, próxima da nossa casa, começamos a colocar diariamente uns punhados de farelo de milho.
A princípio apareceram alguns cardeais, alguns canários da terra e meia dúzia de juritis e de rolinhas. À medida que a seca aumentava e já não tinha mais frutas no cerrado e nem sementes de capim, eles foram aparecendo aos montes. Em pouco tempo ia mais de um quilo de farelo todos os dias. Pássaros pretos, canarinhos da terra, juritis, rolinhas, cardeais e, no sufoco da fome, até joãos-de-barro, bem-te-vis e sabiás começaram a começar milho.
O amanhecer é uma sinfonia. O entardecer também
Em setembro veio a época da reprodução. Um monte de ninhos feitos na nossa casa, nas árvores próximas e no barracão. Uma festa de vida. Logo, logo, montes de filhotes aumentaram os bandos comendo farelo de milho.
Mas o melhor de tudo foi eles aceitarem a proximidade conosco sem tanto medo. E a cantoria! Esse foi o melhor presente. De repente os cantores tomaram conta do entorno. Amanhecem e anoitecem numa cantoria sem fim.
Junto com os pássaros vieram os companheiros periquitos de muitas variedades atrás do mamão que colocamos para os sanhaços, os sabiás e o os graveteiros (aqueles que constroem ninhos com gravetos).
O amanhecer é uma sinfonia. O entardecer também. Já os periquitos não tem hora. Cantam sem parar.
Estabelecemos uma conexão com os pássaros e com a sua necessidade de alimentação. Acabamos nos tornando, de certo modo, uma família. Melhor: unida pela solidariedade e pela fraternidade. Quem diria: seres humanos e pássaros conectados por sentimentos comuns....
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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