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Opinião
Sexta - 25 de Dezembro de 2020 às 06:56
Por: João Edisom de Souza

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“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”, Fernando Pessoa.


Qual é o seu tempo? Nesta viagem incrível que é a vida, faz quanto tempo que você está por aqui? Quantos natais já passastes? Penso que este é o natal para comemorarmos os natais passados. Retrospectiva talvez? Não vou falar de tecnologia nem o fato do homem ter ido à lua. Isso é muito pequeno para quem é viajante do tempo.

Quem já fez, passou ou mesmo está próximo de comemorar seis décadas de vida e ocupou os espaços devidos de seu tempo nesta jornada de vivencias, convivências, experiências e aprendizado, tem muito a comemorar neste natal.

Remotamente deve lembrar das histórias de assombração contadas nas rodas de conversas dos familiares e amigos. Das histórias repetidas dos tios e avós ano após ano. Tempo em que se renovava o riso dos mesmos causos.

Os contares e recontares das viagens daqueles que muitas vezes tinham feito uma única coisa na vida, ou dos chegantes de terras distantes que nunca mais voltaram nem para visitar e por isso repetiam todos os anos os relatos dos tempos de outrora vividos no berço que foi deixado para trás.

Tempos onde os mais antenados, após relatar o ocorrido, afirmavam que “deu na voz do Brasil”. Mais que isso, os dias que antecedia o natal, quem ditavam regras eram as igrejas. No meu caso, um católico praticante, sabia que era tempo de reconstrução, por isso ir à missa, confessar os pecados, pedir perdão para quem a gente tinha magoado, perdoar a gente mesmo e dar uns perdões aos quem porventura tivessem magoado a gente era obrigação.

Um verdadeiro banho na alma, pois no dia do natal estávamos novos, revigorados, leves, novinhos em folha.

Qual é o seu tempo? Nesta viagem incrível que é a vida, faz quanto tempo que você está por aqui?


Presentes? Que presente! Nossa alegria era a chegada de um parente distante, um vizinho querido, um compadre da família que há muito não via.

Nosso presente era gente encontrando gente. E como era bom esses presentes, histórias novas para ouvir, novos causos, novas experiência, nova aprendizagem. Aí passávamos anos repetindo para quem perdeu a história no dia, algumas com imitação dos trejeitos do viajante que nos agraciou com sua visita e sua alegria no dia de natal.

A comida nem era tão boa. Na verdade, era só saborosa! Sabor de confraternização, de compartilhamento de comunhão, pois estava temperada de convivência de gente e aquecida por mãos que tinham prazer em receber. Bebida muito pouca. Quase sempre bebíamos apenas o riso e os versos sem rima das resenhas das próprias vidas vividas. Mas nos deixavam embebedados de alegria.

Sítios, fazendas, cidades minúsculas, pouca opção de condução; quase sempre charretes, carroças, cavalos bem encilhados e os mais abastados no máximo um jipe, uma rural, um fusca ou coisa parecida; quase sempre bem surrado, que por si só valia por parte do condutor pelo menos uns dez causos de sustos, barbeiragem ou atoleiros pelas estradas da vida.

Na véspera, tinha os que iam à missa do galo que começava as 23 horas para terminar a meia noite com todos cantando “noite feliz”. É “Noite feliz! Noite feliz! Oh, Jesus, Deus da luz Quão afável é Teu coração quiseste nascer nosso irmão E a nós todos salvar”.

Sabe, a missa nem era tão boa assim, era até um tanto cansativa. Bom mesmo era o antes e o depois. Bom eram os encontros dos amigos. Era gente encontrando gente para sorrir juntos. Só nós, viajantes do tempo, sabemos o que é isso. Feliz natal, meu irmão, minha irmã viajante do tempo. Feliz natal também aos que ainda não entendem de viagem!

Não vês que somos viajantes?


E tu me perguntas:


Que é viajar?


Eu respondo com uma palavra: é avançar!


Experimentais isto em ti


Que nunca te satisfaças com aquilo que és


Para que sejas um dia aquilo que ainda não és.


Avança sempre! Não fiques parado no caminho.


Santo Agostinho

João Edisom de Souza é professor universitário e analista político em Mato Grosso.



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