Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Terça - 26 de Janeiro de 2021 às 17:51
Por: Luiz Henrique Lima

    Imprimir


O negacionismo e a incompetência têm imposto ao Brasil um elevado custo em vidas humanas. Em um único dia em Manaus, morreram mais pessoas (90 em 19/01/2021) do que em um ano de pandemia no Vietnã um dos países mais pobres da Ásia, com 98 milhões de habitantes (35).

Com menos de 3% da população mundial, nossos mais de 212 mil mortos representam mais de 10% das vítimas da Covid-19 no planeta.

Ao longo de 2020, como em nenhum outro país no mundo, presenciamos autoridades e lideranças empresariais negarem a gravidade da pandemia, desprezarem a adoção de medidas preventivas de distanciamento social, desacreditarem as pesquisas científicas para desenvolvimento de vacinas e postergarem as providências diplomáticas e logísticas para a vacinação maciça e urgente dos brasileiros.

Com mais de mil mortes diárias, a leviandade mórbida de fazer gracejos com coveiros, peixinhos ou jacarés foi um insulto à dor dos familiares e amigos das vítimas da Covid-19. Parcela da população, desorientada e estimulada por tais indivíduos e intoxicada por fake news produzidas em usinas de desinformação, relaxou os protocolos de segurança, ocasionando novo e expressivo aumento nos índices de contaminação, internação e óbitos.

Gracejos com coveiros, peixinhos ou jacarés foi insulto à dor dos familiares

O mais paradoxal é que o que parece mover muitos desses negacionistas é o desejo de retomada plena das atividades econômicas. Todavia, tal retomada só ocorrerá efetivamente a partir da imunização maciça da população, por meio das vacinas.

É o que se sabe e o que se busca em todo o mundo, menos aqui.

Quando, no início da pandemia, todos buscaram financiar pesquisas para produzir vacinas ou, pelo menos, assegurar contratos de fornecimento quando elas estivessem disponíveis, no Brasil a irresponsabilidade investiu muitos milhões de reais em remédios sem eficácia comprovada e agora a incompetência logística não foi capaz sequer de assegurar oxigênio para pacientes em estado grave em Manaus, tampouco adquirir suprimento adequado de seringas e ampolas, muito menos de vacinas.

As poucas doses inicialmente disponíveis, insuficientes para atender 1,5% da população, somente foram obtidas pela iniciativa do governo de São Paulo e do Instituto Butantan, mas a sua distribuição no restante do país tem revelado improvisação e falhas inaceitáveis. Mais grave ainda é a total dependência de insumos importados que, combinada com uma política externa que verbaliza agressões aos nossos principais parceiros comerciais, acumulando e exacerbando conflitos nas mais diversas áreas, configura o que os meteorologistas denominam tempestade perfeita.

Não foi por falta de avisos de nossos cientistas e da comunidade médica. Não foi por falta de alertas de autoridades locais sinceramente empenhadas no combate à pandemia. Foi por opção, por inépcia, ou por ambas que o nosso processo de vacinação iniciou atrasado, insuficiente e claudicante. Com mil mortes diárias e aumentando, quem deveria coordenar os trabalhos fez questão de não demonstrar pressa, ansiedade ou angústia.

Pior é a campanha para desacreditar as vacinas. Observa-se toda uma estratégia medieval e trevosa para semear dúvidas, disseminar objeções e reduzir ou postergar a adesão à vacinação. Além das bobagens acerca da nacionalidade dos laboratórios produtores, uma das mais grotescas afirmações que circulam é a de que as vacinas foram desenvolvidas “a toque de caixa”.

Ora, o desenvolvimento das vacinas em menos de um ano é uma extraordinária vitória da ciência, mercê do trabalho e dedicação de dezenas de milhares de especialistas em todo o mundo. Sem dúvida, foi um esforço inédito e exitoso para confrontar uma emergência sem precedentes para a humanidade.

Boicotar, prejudicar e/ou tumultuar a vacinação é atentar contra a saúde pública. Vacinar-se é um ato de respeito à coletividade e de amor ao próximo.

Um dia conheceremos quantas mortes de brasileiros teriam sido evitadas se a postura de nossos dirigentes maiores no enfrentamento da pandemia tivesse seguido o padrão de uruguaios, israelenses ou vietnamitas.

Luiz Henrique Lima é conselheiro substituto do TCE-MT.



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/3539/visualizar/